A quebra da exchange FTX está expondo um lado obscuro de órgão regulatórios dos Estados Unidos, como a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) e a Commodity Futures Trading Commission (CFTC).
Até o final do mês de janeiro do ano que vem poderá ocorrer a mudança de cargos importantes dentro das entidades regulatórias.
Isto devido a investigações que relacionam estes agentes reguladores a laços informais com a exchange.
Vista grossa regulatória
Uma investigação jornalística promovida pelo repórter investigativo, Gabe Kaminsky, do jornal Washington Examiner, pode comprometer a SEC em relação ao caso FTX.
Kaminsky publicou um tipo de dossiê ao qual relaciona um funcionário da SEC com funcionários e pessoas do alto escalão da exchange FTX, dentre elas, o ex-CEO da exchange, Sam Bankman-Fried (SBF), que está sendo acusado de crimes contra o sistema financeiro norte-americano.
Inclusive SBF foi preso em Bahamas, foi deportado aos Estados Unidos, pagou fiança, e agora aguarda o julgamento em liberdade condicionada.
Dan M. Berkovitz atua na SEC como Conselheiro Geral desde novembro de 2021.
Antes disso Berkovitz era Conselheiro Geral da CFTC dos Estados Unidos.
Aparentemente Berkovitz já deixou o cargo na SEC, e outros agentes podem estar relacionados a facilitações regulamentares e proximidade informal com pessoas da FTX.
Kaminsky teve acesso a emails trocados entre Berkovitz e pessoas da FTX, que mostram que este grupo de pessoas se reuniam de maneira informal desde meados de 2021, enquanto Berkovitz ainda era Conselheiro da CFTC.
Nos emails, o grupo se reuniu em um restaurante de luxo em Washington, o Rasika West End, e assim supõe-se que SBF e pessoas influentes da FTX faziam lobby para conseguir aprovações regulatórias facilitadas com Berkovitz.
Em um dos conjuntos de emails, datado no início de outubro de 2021, portanto pouco antes de Berkovitz ingressar na SEC, SBF, o conselheiro geral da FTX, Ryne Miller, e o até então presidente da FTX, Brett Harrison, jantaram neste restaurante luxuoso com tudo pago, a princípio, com dinheiro da FTX.
Como nem todos os emails foram disponibilizados a Kaminsky, ainda não se sabe ao certo o teor exato das reuniões secretas do agente federal com a FTX.
Mas trechos dos emails relacionam a FTX à prática de lobby para “alterar as regras de negociação que dariam à FTX mais liberdade e poder” sobre o mercado cripto.
Dentre eles, SBF incitou Berkovitz a “apoiar uma proposta que permitiria aos clientes da FTX emprestar dinheiro comercial”., e que foi apoiado por agentes da CFTC.
Nos emails também aparecem nomes como o do CEO da empresa de criptomoedas Ledger X, Zach Dexter, o ex-comissário da CFTC, Mark Wetjen, e Michelle Bond, CEO da Digital Asset Markets Association.
Os emails foram interceptados pelo órgão de vigilância, Protect the Public’s Trust.
O diretor do órgão, Michael Chamberlain, disse ao Washington Examiner que “se alguma vez houve uma cena para evocar a visão de um DC manipulado para infiltrados corruptos às custas do rapaz, seria difícil superar este”.
Continuando, disse que “não muito antes de seu colapso e uma série de acusações de fraude, SBF e sua gangue estavam cortejando um de seus pretensos reguladores, sem dúvida, para tentar manipular os regulamentos a seu favor”.
SBF e sua relação política nos Estados Unidos
Para Chamberlain, este é mais um caso que mostra que mostra como SFB e a FTX possuíam um relacionamento próximo com diversas instâncias políticas do governo norte-americano.
Já se tem provas de SBF doou dinheiro aos partidos democrata e republicano dos Estados Unidos.
E agora está mais que claro que por diversas vezes SBF e pessoas do alto escalão da FTX viajaram diversas vezes para se reunirem com membros da CFTC.
A CFTC já havia sido criticada anteriormente por supostamente atender ao setor de criptoativos, sem tomar medidas regulatórias mais rígidas.
Por fim, Chamberlain disse que ao Washington Examiner que “aparentemente, se você falar a retórica certa e jogar milhões nos cantos certos, você também pode ter um jantar privado com as pessoas que escrevem as regras pelas quais você deve viver”.
Estaria Gary Gensler, presidente da SEC, envolvido nisso?
Logo após o colapso da FTX, Tom Emmer, congressista republicano da Câmara dos Deputados de Minnesota, disse em sua conta do Twitter que o presidente da SEC dos Estados Unidos, Gary Gensler, poderia estar ajudando SBF a obter um “monopólio regulatório” de sua exchange.
Em sua publicação, Emmer repostou uma publicação de Gensler dizendo que o presidente da SEC “corre para a mídia enquanto relatórios para meu escritório alegam que ele estava ajudando SBF e FTX a trabalhar em brechas legais para obter um monopólio regulatório”.
Emmer finalizou a postagem dizendo que: “estamos investigando isso”.
O Congressista apenas disse que tinha provas, mas não apresentou mais detalhes do que supostamente tinha em mãos.
Há suspeitas que não foram negadas por Gensler de que SBF se reuniu algumas vezes com funcionários da SEC durante o ano de 2022.
Mesmo com a suspeita, Gensler que costuma perseguir e divulgar investigações contra empresas de criptoativos não disse que estava investigando a exchange FTX US, a subsidiária norte-americana da FTX.
Outra pessoa relacionada por Emmer a estes casos é a presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Maxine M. Waters.
Diante das provas das reuniões de SBF com funcionários da SEC, Waters emitiu uma declaração pedindo pela supervisão federal das plataformas de negociação de criptoativos.
Entretanto, se esquivou das acusações contra a SEC.