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O Evangelho de Satoshi Nakamoto – Cap. 1 vers. 4

Por Leonardo Broering Jahn
Foto: BitNotícias

Muito bom dia meus irmãos! Domingo é dia de descansar levantar cedo e ler o Evangelho…

No anterior, a primeira parte de “Evolução, Cooperação, e Colecionáveis” de Shelling Out, neste a segunda parte..

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Dentre pequenos grupos de humanos, a reputação pública pode tomar o lugar da retaliação por um único indivíduo para motivar a cooperação na reciprocidade atrasada. No entanto, crenças de reputação podem sofrer de dois tipos principais de erros – erros sobre qual pessoa fez o que, e erros na avaliação dos valores ou danos causados por aquele ato.

A necessidade de lembrar rostos e favores é um enorme obstáculo cognitivo, mas um que a maioria dos humanos considera relativamente fácil de superar. Reconhecer rostos é fácil, mas lembrar que um favor ocorreu quando tal memória precisa ser relembrada pode ser mais difícil. Lembrar dos detalhes a respeito de um favor que concedeu certo valor ao favorecido é mais difícil ainda. Evitar disputas e desentendimentos pode ser improvável ou proibitivamente difícil.

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O problema de reconhecimento ou medida de valor é bastante amplo. Para humanos ele aparece em qualquer sistema de troca – reciprocidade de favores, escambo, dinheiro, crédito, emprego, ou compra em um mercado. É importante na extorsão, taxação, tributação, e na fixação de sanções judiciais. É importante até no altruísmo recíproco nos animais. Consideres macacos trocando favores – vamos dizer pedaços de fruta por coçadas nas costas. A catação¹ mútua pode remover carrapatos e pulgas que um indivíduo não consegue ver ou alcançar. Mas quanta catação versus quantos pedaços de fruta constituem uma reciprocidade que as duas partes considerem “justa”, ou em outras palavras uma não deserção? Vinte minutos de coçar as costas valem um pedaço de fruta ou dois? E quão grande o pedaço?

Até o simples caso de trocar sangue por sangue é mais complicado do que parece. Como os morcegos estimam o valor do sangue que eles recebem? Estimam o valor por peso, por carga, por gosto, pela habilidade de saciar a fome, ou outras variáveis? Da mesma forma, complicações de medição surgem até na simples troca de “você coça minhas costas e eu coço as suas” dos macacos.

Para a vasta maioria das trocas em potencial, o problema de medição é intratável para animais. Ainda mais do que o problema mais fácil de lembrar rostos e os atribuir a favores, a habilidade das duas partes de concordar com precisão suficiente numa estimativa de valor de um favor é, primeiramente, a principal barreira ao altruísmo recíproco entre animais.

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Apenas o kit de ferramentas de pedras de um homem do início do Paleolítico que tenha sobrevivido para encontrarmos era de algum modo muito complicado para os cérebros do tamanho do nosso. Acompanhar os favores envolvendo eles – quem produzia qual qualidade de ferramenta para quem, e por consequência quem devia quem, e assim por diante – teria sido difícil demais fora dos limites do clã. Adicionado a isso, provavelmente, uma grande variedade de objetos orgânicos, serviços efêmeros (como a catação), e assim por diante que não sobreviveram. Depois de mesmo uma pequena fração desses bens terem sido transferidos e serviços performados, nosso cérebro, tão inflados quanto sejam, não conseguiria acompanhar quem deve o que pra quem. Hoje frequentemente nós escrevemos essas coisas – mas o homem Paleolítico não tinha a escrita. Se ocorreu cooperação entre clãs e até tribos, como o registro arqueológico indica que de fato ocorreu, o problema se torna muito pior, uma vez que tribos caçadoras-coletoras eram geralmente antagônicas e mutuamente desconfiadas.

Se conchas² podem ser dinheiro, pele pode ser dinheiro, ouro pode ser dinheiro e assim por diante – se dinheiro não é somente moedas ou notas emitidas por um governo sob a legislação aplicável, mas ao invés disso pode ser uma variedade de objetos – então o que afinal de contas é o dinheiro? E por que os humanos, frequentemente vivendo à beira da fome, gastam tanto tempo fazendo e apreciando esses colares quando poderiam estar coletando e caçando mais? O economista do século 19 Carl Menger[M1892] descreveu inicialmente como o dinheiro evolui natural e inevitavelmente de um volume suficiente de troca(escambo) de commodities. Em termos da economia moderna a história é similar à de Menger.

O escambo requer uma coincidência de interesses. Alice produz nozes e quer algumas maçãs; Bob produz maçãs e quer algumas nozes. Acontece de seus pomares estarem próximos , e Alice confia em Bob o suficiente para esperar o tempo entre a colheita de nozes e a de maçã. Assumindo que todas essas condições sejam atendidas, o escambo funciona muito bem. Mas se Alice estivesse produzindo laranjas, mesmo se Bob quisesse laranjas bem como nozes, eles estariam sem sorte – laranjas e nozes não crescem bem no mesmo clima. Se Alice e Bob não confiassem um no outro, e não pudessem encontrar uma terceira parte para ser intermediário[L94] ou fazer um cumprir um contrato, eles também estariam sem sorte.

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Outras complicações podem surgir. Alice e Bob não podem articular completamente uma promessa de venda futura de nozes ou maçãs, porque entre outras possibilidades, Alice poderia ficar com as melhores nozes para si mesma (e Bob com as melhores maçãs), dando ao outro as escórias. Comparando as qualidades assim como as quantidades de dois tipos diferentes de bens é ainda mais difícil quando o estado de um dos bens é apenas uma memória. Além disso, nenhum dos dois pode antecipar eventos como uma colheita ruim. Essas complicações aumentam o problema de Alice e Bob decidirem enquanto separados se o altruísmo recíproco tem sido realmente recíproco. Esses tipos de complicações aumentam conforme quão maior o intervalo de tempo e quanta incerteza entre a transação original e a recíproca.

Um problema relacionado é que, como diriam os engenheiros, escambo “não é escalável”. Escambo funciona bem em poucos volumes mas se torna cada vez mais caro em grandes volumes, até que se torna caro demais para valer a pena. Se existem n bens e serviços para troca, um mercado de escambo requer n^2 preços. Cinco produtos requerem vinte e cinco preços, o que não seria tão ruim, mas 500 produtos requerem 250.000 preços, que vai muito além do que é prático pra um pessoa acompanhar. Com dinheiro, só existem n preços – 500 produtos, 500 preços. O dinheiro, com esse propósito, pode trabalhar tanto como um meio de troca ou simplesmente como um padrão de valor – contanto que o número de preços em dinheiro não cresça demais pra memorizar ou mude com muita frequência. (O último problema, juntamente com um “contrato” de seguro implícito, juntamente com a falta de um mercado competitivo podem explicar porque os preços eram geralmente determinados por um costume evoluído de longo tempo e não por negociação aproximada).

O escambo requer, em outras palavras, coincidências de demandas ou habilidades, preferências, tempo, e baixo custo de transferência. Seus custos aumentam muito mais rapidamente do que o crescimento no número de bens trocados. O escambo certamente funciona muito melhor do que nenhuma troca em absoluto, e tem sido amplamente praticado. Mas é bastante limitado comparado a trocar com dinheiro.

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O dinheiro primitivo existia muito antes das redes de comércio de grande escala. O dinheiro teve um uso ainda anterior e muito mais importante. O dinheiro melhorou muito o funcionamento até de pequenas redes de troca ao reduzir drasticamente a necessidade de crédito. A coincidência simultânea de preferências era muito mais rara do que a coincidência através de longos períodos de tempo. Com dinheiro Alice poderia coletar para Bob durante o amadurecimento dos mirtilos este mês, e Bob caçar para Alice durante a migração dos rebanhos de mamute seis meses depois, sem precisar ter que recordar quem deve o quê para quem, ou confiar na honestidade ou memória do outro. O investimento de uma mãe na educação infantil poderia ser assegurado por presentes de valores inforjáveis. O dinheiro converte o problema de divisão do trabalho de um dilema de prisioneiro para uma simples troca.

O proto dinheiro³ usado por muitas tribos de caçadores e coletores é bem diferente do dinheiro moderno, agora serve um papel diferente na nossa cultura moderna, e tinha uma função provavelmente limitada a pequenas redes de troca e outras instituições locais discutidas abaixo. Chamarei esse dinheiro de colecionável ao invés de dinheiro propriamente dito. Os termos usados na literatura antropológica para tais objetos são geralmente ou “dinheiro”, definido mais amplamente do que apenas notas e moedas emitidas por governos todavia mais estreitamente do que “colecionável” como usamos estreitamente neste artigo, ou o vago “bem de valor”, que certas vezes se refere a itens que não são colecionáveis no sentido dessa dissertação. As razões para escolher o termo colecionável ante outros possíveis nomes para proto dinheiro se tornarão mais aparentes. Os colecionáveis tinham atributos bem específicos. Eles não eram meramente simbólicos. Enquanto os objetos concretos e os atributos avaliados como colecionáveis poderiam variar entre as culturas, eles estavam longe de serem arbitrários. A primeira e mais importante função evolucionária dos colecionáveis era como um meio de armazenar e transferir riqueza. Alguns tipos de colecionáveis, como o wampum, poderiam ter sido bastante funcionais como o dinheiro da forma que nós modernos conhecemos, onde as condições econômicas e sociais estimularam o comércio. Ocasionalmente usarei os termos “proto dinheiro” e “dinheiro primitivo” intercambiavelmente com “colecionável” ao discutir meios de transferência de riqueza antes do sistema de cunhagem.

 

¹ grooming: catação (considerando o contexto) | to groom: arrumar, enfeitar, escovar, catar(parasitas na pele do animal)
² o autor usa “clams” = moluscos/amêijoas. Porém faz mais sentido traduzir para conchas.
³ proto-money: proto dinheiro, proto moeda

 

No próximo versículo seguimos para “Ganhos de Transferência de Riqueza”. Tenham um bom domingo, fiquem com Deus e até amanhã..

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@leonardobjahn Natural de Florianópolis, SC 27 anos Evangelista Bitcoin Graduando Administração na UFSC Professor particular e tradutor de Inglês
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