- Tether vira extensão do dólar e fortalece controle dos EUA.
- Stablecoin USDT deixa de ser símbolo de liberdade financeira.
- Proximidade da Tether com governo americano preocupa comunidade cripto.
A Tether, maior emissora de stablecoins do mundo, mudou radicalmente de posição no cenário financeiro. O que antes era visto como um instrumento de liberdade digital agora se aproxima cada vez mais do coração do governo dos Estados Unidos.
Com mais de 80% de suas reservas aplicadas em títulos do Tesouro, a empresa se tornou uma das maiores compradoras da dívida americana, superando até países como a Alemanha. Esse movimento transformou o USDT em uma extensão do dólar, ampliando a influência de Washington sobre a economia global.
Historicamente, o Tether foi essencial em países em crise. Em regiões onde governos locais destruíram moedas nacionais, o USDT funcionou como refúgio financeiro. Também buscou fortalecer o ecossistema Bitcoin, apoiando projetos de mineração descentralizada e iniciativas de privacidade, como o HolePunch.
Essas ações consolidaram sua reputação entre Bitcoiners. Porém, a aproximação com os EUA mudou o cenário. Hoje, a Tether colabora ativamente com órgãos de segurança, como FBI e Serviço Secreto, congelando carteiras e transações de indivíduos sancionados, muitas vezes de forma voluntária.
Tether
Esse alinhamento não surgiu do nada. A empresa enfrentou investigações, pagou multas superiores a US$ 40 milhões e suportou campanhas de desconfiança conhecidas como Tether FUD. No entanto, cada crise acabou reforçando seus vínculos com as autoridades americanas.
Além disso, em 2023, a empresa congelou US$ 225 milhões em transações suspeitas, demonstrando que sua rede pode ser usada como ferramenta de controle estatal. Para críticos, a stablecoin deixou de ser apenas um ativo digital e passou a atuar como instrumento de política monetária dos EUA.
O elo entre a criptomoeda e o governo se estreitou ainda mais quando a empresa passou a armazenar parte de seus US$ 160 bilhões em ativos na Cantor Fitzgerald, gigante de Wall Street. A coincidência política chamou atenção: Howard Lutnick, ex-CEO da Cantor, hoje ocupa o cargo de Secretário de Comércio no governo Trump. Além disso, a criação da TwentyOne Capital, parceria entre Tether, Bitfinex, Cantor e Softbank, reforçou a simbiose entre finanças privadas e interesses estatais.
Para completar, a empresa lançou a USAT, uma stablecoin criada sob as regras da Lei Genius, legislação que transformou emissores em instituições financeiras obrigadas a reportar transações e monitorar usuários como bancos tradicionais. Na prática, esse modelo equipara o USDT a uma espécie de CBDC americana terceirizada, permitindo que o Estado acompanhe movimentações globais em tempo real, sem emitir oficialmente uma moeda digital própria.