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O Evangelho de Satoshi Nakamoto – Cap. 1 vers. 6

Por Leonardo Broering Jahn
Foto: BitNotícias

Boa tarde amigos, estou de volta

No versículo anterior: “Ganhos de Transferência de Riqueza”, de Shelling Out.
Neste a primeira parte de “Seguro Contra a Fome”

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Seguro Contra a Fome

Bruce Winterhalder[W98] pesquisa modelos de como e por quê a comida é algumas vezes transferida entre animais: roubo tolerado, produção/adulação¹/oportunismo, subsistência sensível ao risco, mutualismo de subproduto, reciprocidade atrasada, comércio/troca não em espécie, e outros modelos de seleção (incluindo altruísmo familiar). Aqui focaremos em subsistência sensível ao risco, reciprocidade atrasada, e comércio (trocas, mas não em espécie). Argumentamos que substituindo a troca de comida por colecionáveis para reciprocidade atrasada pode aumentar o compartilhamento de comida. Isso acontece ao mitigar os riscos de uma oferta variável de comida enquanto evitam os problemas largamente intransponíveis de reciprocidade atrasada entre bandos. Trataremos do altruísmo familiar e roubo (tolerado ou não) em contextos mais amplos abaixo.

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O alimento é muito mais valioso para pessoas famintas do que para os bem alimentados. Se o homem faminto pode salvar sua vida ao trocar seus bens mais valiosos, pode valer pra ele meses ou até anos de trabalho que podem demorar a recuperar aquele valor. Ele vai usualmente considerar a sua vida muito mais valiosa do que o valor sentimental de suas heranças. Como a gordura em si, os colecionáveis podem providenciar um seguro contra a escassez de alimentos. A fome  da escassez local poderia ser evitada pelo menos de duas maneiras diferentes de troca – por alimento em si, ou por direitos de caça ou forrageamento.

Mesmo assim, os custos de transação eram geralmente muito altos – os bandos eram muito mais propensos a lutar do que confiar uns nos outros. O bando faminto que não achasse sua própria comida usualmente morria de fome². No entanto, se os custos de transação pudessem ser baixados, ao diminuir a necessidade de confiança entre os bandos, o alimento que valia um dia de trabalho para um bando poderia valer alguns meses de trabalho para o bando faminto.

As trocas, locais, mas extremamente valiosas eram, argumenta esse ensaio, possibilitadas dentre várias culturas pelo advento dos colecionáveis, no tempo do Paleolítico Superior. Os colecionáveis substituíram os relacionamentos de confiança de longo prazo necessários, mas inexistentes. Se tivesse existido um alto grau de interação sustentada e confiança entre tribos, ou indivíduos de diferentes tribos, para que pudessem dar crédito sem garantias um ao outro, isso teria estimulado um escambo atrasado³. No entanto, tal nível de confiança naquele tempo era altamente implausível – pelas razões apresentadas acima a respeito de altruísmo recíproco, confirmados por evidências empíricas de que a maioria das relações tribais dos coletores/caçadores têm sido observadas como bastante antagônicas. Bandos caçadores/coletores usualmente se dividiam em bandos menores durante a maior parte do ano, e se reuniam em “agregados”, algo como as feiras medievais Europeias, durante algumas semanas ao longo do ano. Apesar da falta de confiança entre os bandos, um importante comércio de materiais, do tipo ilustrado na figura que acompanha, quase certamente ocorreu na Europa e provavelmente em outros lugares, tais como com os grandes caçadores da América e África.

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O cenário ilustrado pela figura acompanhante é hipotético, mas seria muito surpreendente se não tivesse ocorrido. Enquanto muitos Europeus até no Paleolítico apreciaram usar colares de conchas, muitos viviam no interior e faziam seus colares dos dentes de suas presas. Pederneiras, machados, peles, e outros colecionáveis também eram muito provavelmente usados como meios de troca.

Renas, bisões, e outras presas humanas migravam em diferentes épocas do ano. Tribos diferentes se especializaram em presas diferentes, ao ponto que 90%, e algumas vezes tanto quanto 99%, dos restos mortais de muitos sítios durante o Paleolítico na Europa vem de uma única espécie.[C94] Isso indica pelo menos uma especialização sazonal e talvez até especialização integral por uma tribo em uma única espécie. Na medida em que se especializaram, os membros de uma única tribo teriam se tornado peritos no comportamento, hábitos de migração, e outros padrões relativos àquela particular espécie de presa, assim como nas ferramentas e técnicas especializadas para caçá-la. Algumas tribos observadas em tempos recentes são conhecidas por terem se especializado. Algumas tribos de Índios Norte Americanos se especializaram respectivamente em caçar bisões, antílopes, e na pesca de salmão. No norte da Rússia e partes da Finlândia, muitas tribos, incluindo os Lapões ainda hoje, especializaram-se em pastorear um única espécie de Rena.

Tal especialização era provavelmente muito maior quando mais presas maiores (cavalo, auroque, alce gigante, bisão, preguiça gigante, mastodonte, mamute, zebra, elefante, hipopótamo, girafa, boi almiscarado, etc.) vagueavam pela América do Norte, Europa, e África em grandes rebanhos durante o Paleolítico. Grandes animais selvagens sem medo de seres humanos já não existem mais. Durante o Paleolítico eles foram ou extintos ou se adaptaram a ter medos dos seres humanos e seus projéteis. No entanto, durante a maior parte do período de vida do H. sapiens sapiens esses rebanhos eram abundantes e escolhas fáceis para caçadores especializados. De acordo com a nossa teoria da predação baseada no comércio, a especialização era muito mais provável quando grandes presas percorriam a América do Norte, a Europa e a África em grandes rebanhos durante o Paleolítico. A divisão do trabalho baseada no comércio na caça entre tribos é consistente com (embora não confirmada com segurança) a evidência arqueológica do Paleolítico na Europa.

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Esses bandos migratórios, seguindo seus rebanhos, frequentemente interagiam, criando muitas oportunidades para o comércio. Índios Americanos preservavam alimentos secando, fazendo pemmican, e assim por diante, de maneiras que duravam alguns meses mas normalmente não um ano inteiro. Essa comida era comumente trocada, juntamente com peles, armas, e colecionáveis. Geralmente esse comércio ocorria durante expedições anuais de trocas[T01].

Grandes rebanhos de animais migravam através de um território somente duas vezes por ano, com uma janela, na maioria das vezes, de um ou dois meses. Sem nenhuma outra fonte de proteína que não a sua própria espécie de presa, essas tribos especialistas teriam morrido de fome. O alto grau de especialização demonstrado nos registros arqueológicos poderiam somente ter ocorrido se houvesse comércio.

Assim, mesmo que o escambo de carne com compensação de tempo fosse o único tipo de comércio, isso é suficiente para tornar o uso de colecionáveis bastante interessante. Os colares, pederneiras, e quaisquer outros objetos usados como dinheiro circulam em um loop fechado, indo e voltando, em quantidades aproximadamente iguais desde que o valor da carne negociada permaneça aproximadamente igual. Note que não é suficiente, para que a teoria dos colecionáveis apresentadas neste trabalho esteja correta, que trocas benéficas únicas tenham sido possíveis. Nós devemos identificar loops fechados de comércio mutuamente benéficos. Com loops fechados os colecionáveis continuam a circular, amortizando seus custos.

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Como mencionado, sabemos através de restos arqueológicos que muitas tribos se especializaram em únicas espécies de grandes presas. Essa especialização foi no mínimo sazonal; se houve trocas mais extensivas pode ter sido integral. Ao se tornar perita nos hábitos e padrões de migração, e nos melhores métodos de derrubada, uma tribo obtém enormes benefícios produtivos. Esses benefícios, no entanto, seriam normalmente inatingíveis, pois se especializar em um única espécie significaria ficar sem comida pela maior parte do ano. A divisão do trabalho entre as tribos compensou – e o comércio tornou isso possível. O suprimento de comida quase dobraria através do comércio apenas entre duas tribos complementares. Existiam, entretanto, ao invés de duas espécies de presa, muitas vezes até uma dúzia migraram através da maioria dos territórios de caça em áreas como o Serengeti e o estepe Europeu. A quantidade de carne disponível para uma tribo especializada seria, portanto, mais do que dobrada com tal comércio entre um punhado de tribos vizinhas. Além disso, a carne extra estaria lá quando mais se precisasse – quando a carne das presas da tribo já tivesse sido comida, e sem comida os caçadores morreriam de fome.

 

¹ scrounging: o termo tem basicamente dois sentidos: 1. Caça, procura ou coleta de algo de valor 2. Obtenção de algo de outrem através de bajulação, adulação. O contexto foca na relação entre animais na transferência de alimentos, portanto escolhi o segundo.   
² starved: o termo não necessariamente implica que morria de fome, pode ser ‘passava fome’.
³ time-lagged: atrasado, com lag, sem sincronia.

 

No próximo versículo: a segunda parte de “Seguro contra a Fome”
Deus os abençoe e até amanhã..

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@leonardobjahn Natural de Florianópolis, SC 27 anos Evangelista Bitcoin Graduando Administração na UFSC Professor particular e tradutor de Inglês
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