- S&P coloca o USDT na pior nota possível e acende alerta global.
- Tether reage e acusa sistema financeiro tradicional de propaganda.
- Mercado ignora rebaixamento e mantém confiança no resgate 1:1.
A Tether recebeu a pior nota possível da S&P Global Ratings. A decisão reacendeu o debate sobre a transparência e os riscos associados à maior stablecoin do mundo. Na quarta-feira, 26 de novembro, a agência reduziu a classificação de paridade do USDT de 4 (restrita) para 5 (fraca). Isso colocou o token no mesmo grupo de projetos já pressionados, como TrueUSD e USDe. A mudança trouxe novas dúvidas sobre a exposição da empresa a ativos voláteis e sobre o nível de informação disponível ao público.
A S&P explicou que o rebaixamento reflete um aumento consistente no peso de ativos de maior risco dentro das reservas que sustentam o USDT. Segundo o relatório, essa fatia subiu de 17% no último ano para 24%, indicando maior dependência de instrumentos com baixa transparência e sensibilidade a movimentos bruscos de mercado.
Entre esses ativos, a agência listou Bitcoin, ouro, metais preciosos, títulos corporativos e empréstimos garantidos. Todos são classificados como de risco elevado. Além disso, afirmou que essas posições apresentam riscos de crédito e riscos cambiais. Contam com pouca divulgação, já que a Tether revela apenas parte das informações sobre seus administradores e suas estratégias.
Em um dos trechos mais críticos, a S&P destacou que o Bitcoin agora representa 5,6% de todo o USDT em circulação. A agência avaliou que esse nível excede a margem de sobrecolateralização de 3,9%. Isso sugere que a reserva não absorveria totalmente uma queda severa no preço da criptomoeda em um cenário adverso.
Tether na mira dos reguladores
Mesmo assim, o relatório reconheceu os mais de US$ 130 bilhões em títulos do Tesouro dos EUA mantidos pela empresa. Ainda assim, reforçou que faltam detalhes sobre os investimentos que compõem o restante da carteira. A Tether respondeu afirmando que publica atestados trimestrais por meio da BDO Italia. Ela mantém uma estrutura de reservas transparente e sólida.
A reação pública veio rapidamente. Paolo Ardoino, CEO da empresa, classificou a S&P como uma “máquina de propaganda”. Ele disse que os modelos tradicionais de classificação já falharam com investidores no sistema financeiro global. Em sua visão, instituições tradicionais veem a Tether como uma ameaça, porque a empresa desafia práticas consideradas ultrapassadas.
Apesar do choque inicial, analistas não observaram movimentos bruscos no mercado. Jake Kennis, pesquisador da Nansen, afirmou que não houve saídas significativas de exchanges nem aumento relevante de pedidos de resgate. Ele acrescentou que o mercado continua tratando o USDT como um ativo resgatável na proporção de 1:1, comportamento coerente com crises anteriores.
Hoje, o USDT domina o setor com mais de 60% da capitalização de todas as stablecoins, que ultrapassou US$ 300 bilhões recentemente. Também lidera o volume mensal de transações. Embora o USDC tenha superado o USDT pela primeira vez no mês passado, registrando US$ 764,6 bilhões contra US$ 724,8 bilhões do seu rival.
Cenário para o USDT
O cenário mostra que, embora a nota da S&P tenha ampliado a pressão por clareza, o mercado ainda confere confiança à Tether. No último relatório divulgado pela empresa, 77,23% das reservas estavam em dinheiro, equivalentes de caixa e depósitos de curto prazo. Mais de 80% desse total estava alocado em títulos do Tesouro americano.
A Tether, agora sediada em El Salvador, reportou US$ 181,2 bilhões em ativos para lastrear US$ 174,4 bilhões em USDT em circulação em 30 de setembro. Os números indicam sobrecolateralização, mas o debate sobre riscos permanece. Isso reforça a necessidade de mais detalhes em um mercado que cresce rapidamente e enfrenta escrutínio crescente.
