Hoje foi apresentado pelo Banco Central (BC) a nova cédula de R$200 reais, que possui um lobo-guará impresso em uma das faces. A sua circulação também começou hoje.
A fala inicial do BC para apresentar a nota veio de sua Diretora Administrativa, Carolina de Assis Barros, que trouxe a pandemia como um dos principais desafios que fizeram com que a população tivesse uma demanda maior por papel moeda.
Explicou que levantamentos feitos pelo BC apontaram uma situação caótica proporcionada pela pandemia, “onde famílias e empresas fizeram saques para acumular reservas”, e se viu forçado junto ao Conselho Monetário Nacional a lançar a nova cédula.
A seguir, justificou que tratou-se de uma medida energética do BC, que agia preventivamente e com responsabilidade, pois caso nenhuma medida fosse tomada o Brasil teria falta de numerário, e a população não teria dinheiro em mãos.
A Diretora alegou que o papel moeda ainda é o meio de transação mais utilizado no país, desconsiderando que 90% do valor global das transações financeiras ocorram por meios digitais, como transferências entre contas correntes, TED, DOC, pagamentos com cartão de crédito e débito, entre outros.
Fato interessante em sua fala foi justificar a condição de falta de dinheiro físico para que o BC se sentisse obrigado a injetar mais papel moeda na economia.
Isto porque as pessoas não possuem acesso a contas bancárias e outros meios digitais de pagamentos devido a limitações burocráticas do próprio sistema; são os ditos desbancarizados.
Outra fala interessante foi incluir as famigeradas moedas a esta problemática econômico-social. Sim, estas coisas de metal mesmo, que não possuem mais valor no Brasil devido à depreciação do Real, e que também são caras para serem cunhadas.
A moeda de R$0,01 centavo, por exemplo, saiu de circulação por custar mais caro a sua produção do que ela mesma!
A nota de R$1 real (que trazia o beija-flor impresso) também saiu de circulação por causa do mesmo problema, uma vez que cada nota já chegava ao mercado valendo aproximadamente 40% a menos, depreciada pelo seu custo de produção e seu baixo valor.
Entenda, imprimir uma cédula de R$10 reais ou uma de cédula R$50 tem quase o mesmo custo, mas uma vale 5 vezes mais que a outra.
Ainda na apresentação da nova cédula, a Diretora disse que o BC após torrar o “estoque de segurança de cédulas e moedas”, imprimiu ainda mais grana até o limite de sua capacidade, cogitando até a hipótese de encomendar a outro país a confecção do nosso dinheiro. Sério!
De fato, devido aos Programas governamentais de auxílio na pandemia, as projeções mais amenas do BC mostraram que precisaria ser gerado 105 bilhões de reais no espaço de 5 meses, além dos 64 bilhões que já estavam programados para rodar na impressora estatal.
Devido à forma como o BC produz papel moeda, dividindo a produção de forma intercalada entre as notas de R$2 e R$5, R$10 e R$20, e R$50 e R$100 reais, imprimir mais notas de R$100 reais apenas não bastaria para suprir a necessidade “do povo”, e assim a solução foi por para rodar o lobo-guará.
Pasmem, pois com esta iniciativa de imprimir notas de R$200 reais ao invés das de R$100 reais, o BC concluiu e disse à população que estaríamos “gastando pouco para termos muito”!
No final de sua fala, a Diretora Administrativa do BC enalteceu o papel do Banco Central em cumprir o seu próprio papel de imprimir papel, ressaltando a equipe que se empenhou bastante em “apertar o botão do imprimir em tempo recorde”.
Já o Presidente do BC, Roberto Campos, teve uma fala rápida onde ressaltou a importância do BC em criar uma nova cédula, e deixou uma dúvida preocupante no ar, a de “não saber se a quantidade de papel moeda que estamos imprimindo agora será o suficiente”!
Mas para nos aliviar um pouco disse que as notas deverão ser fornecidas de acordo com a demanda.
Campos também ligou a necessidade de produzir a nova cédula à pandemia, mas disse que este já era um projeto que vinha sendo estudado desde 2010, quando a segunda família de notas do Real passou a ser fabricada.
Ao final de sua curta fala, o Presidente do BC elencou as principais ações a partir de agora, como otimizar o controle de segurança da nova cédula, além de mediar a sua introdução paulatina na economia, e também fornecer o devido esclarecimento à população.
Após apresentarem um vídeo sobre diversos aspectos físicos, de segurança, e econômicos da nota de R$200 reais, o BC abriu os microfones para perguntas, e já a primeira resposta da Diretora Administrativa mostrou uma incoerência imensa.
Por meio da internet, Juliana Gonçalves da TV Bandeirante do Rio de Janeiro relacionou a desvalorização do Real como sendo o motivo para a criação da nova cédula de R$200 reais.
Ao dizer que não era este o motivo, mas sim o momento de necessidade de papel moeda em circulação, excluindo a inflação ou perda do valor do Real como motivo, a Diretora não prometeu extinguir a nova nota assim que esta “necessidade” terminar. O que de fato não ocorrerá!
Na mesma resposta a Diretora informou que o milheiro de cédulas de R$200 reais custará ao Governo o valor de R$325 reais. Um valor baixo para o BC sanar seus problemas, mas alto para a população mais pobre.
Todas as outras perguntas apresentadas nos quase 15 minutos de microfones abertos tiveram respostas unilaterais e de fundamentação estatal centralizada.
Não por menos, os comentários da população nos mais distintos meios de comunicação são de repreensão ao modo gerencial da economia do país.
Como eu infelizmente confesso que ri de algumas coisas que ouvi na apresentação da nova nota, chego a aconselhar que assistam ao vídeo disponibilizado pelo BC para sentirem como a população sem acesso à educação ampla é manipulada pelo Governo, que se preocupa em falar mais de lobo-guará que de economia real na apresentação do projeto seríssimo de desmonetização do nosso dinheiro.
Conforme a fala da Diretora do BC, a população mais desassistida é a que mais necessitará dessa nota. Mas a população de baixa renda não terá acesso a ela, pois quando a nota chegar às mãos dessa parte da sociedade ela já terá perdido muito do seu valor.
Na economia real é assim: Se saiu o beija-flor para entrar o lobo-guará, quem pagou o pato foi você!