A moeda fiduciária é um modelo social e econômico formatado pela humanidade como mensuração de valor de produtos em geral, troca e pagamento de bens e serviços, e como reserva de valores, dentre outras tantas funções secundárias a estas opções. O Estado é o mantenedor e organizador das funções básicas das moedas fiduciárias, e a sociedade de certa forma confia a este Estado a representatividade de seu valor e demais atribuições.
Entretanto, como o Estado utiliza-se de sua soberania para regulamentar a economia de um país, a sociedade, em parte, desacredita da capacidade e do consenso legítimo do Estado em fazê-lo de forma sadia e responsável.
Este fato está fazendo com que novos modelos econômicos de gerenciamento financeiro sejam estudados, criados e implementados. Não por menos, através do anseio social de contratos financeiros que não lesassem a esfera econômica que surgiram as criptomoedas. Estas, seriam utilizadas de forma particular, descentralizada e anônima; e gerenciadas por cidadãos e não pelo Governo.
Isto é possível, pois se um número relativo de indivíduos não estiverem satisfeitos com a economia regulamentada pelo Governo, estas podem acordar coletivamente em usar modelos alternativos de contratos sociais para otimizarem e melhorarem as suas negociações econômicas.
Neste ponto de vista, no geral as criptomoedas existem há 10 anos, e mais que a sua aprovação como um novo modelo econômico para a sociedade, estas precisam em um curto espaço de tempo se garantirem em confiabilidade e usabilidade, ou podem cair em descrédito e tornarem-se mais uma promessa que foi por água abaixo!
Tal descrédito poderia surgir pois mesmo que o dinheiro FIAT, controlado de forma centralizada, apresente suas problemáticas econômicas e sociais, as criptomoedas também formam contratos econômicos-sociais para a população. E estes contratos sociais precisarão ser claros e estarem bem fundamentados para a comunidade, e devem preservar os seus conceitos e regras originais ou poderão estar fadados ao fim.
Ao se desenvolver um contrato social às criptomoedas, algumas questões deverão ser apresentadas e respondidas para a sua uniformização dentro da rede econômica mundial, e assim, a sua usabilidade poderá abranger uma preponderante fatia do mercado econômico.
Atualmente, a principal criptomoeda que conhecemos é um enigma de várias vertentes. Sobre o Bitcoin, ainda não sabemos de fato: Por quem foi criado? Como definir o seu real propósito? Quem decidiu e regulamenta as suas propriedades? Quem o controla hoje, e quem o controlará amanhã? E quais fatores críticos possíveis poderiam extinguir o Bitcoin, por se tratar de uma moeda digital? (https://bitnoticias.com.br/5-motivos-pelos-quais-o-bitcoin-poderia-morrer/) ( https://bitnoticias.com.br/quais-criptomoedas-irao-morrer/).
Mesmo assim, milhares de novas criptomoedas foram criadas seguindo os conceitos e padrões do Bitcoin, e assim, mesmo tendo aparentemente um propósito fundamentalista de credibilidade, o Bitcoin ainda precisa que seu contrato social esteja claro e definido para que um maciço número de usuários o aceitem, e aceitem as Criptomoedas.
Os contratos sociais são antigos, e regeram os princípios econômicos iniciais, desde as trocas de mercadorias por mercadorias, até a chegada do padrão ouro à sociedade. Entretanto, houve a necessidade de evolução deste tipo de contrato social, uma vez que o ouro era um metal de difícil fracionamento, transporte e armazenagem, e assim foi substituído por moedas e papel-moeda ao longo do tempo. Atualmente, os cartões de crédito e débito, os leitores de código de barras, e as transferências bancárias já implementam novos mecanismos de utilização ao dinheiro FIAT.
Como um passo adiante, indubitavelmente o principal fundamento do contrato social que é o Bitcoin e que são as Criptomoedas é a substituição destes modelos físicos e centralizados de transação por um modelo descentralizado, seguindo a nova era da digitalização e automação que vem englobando todos os segmentos da economia mundial.
Um paradigma a ser respondido para a sedimentação do contrato social que é o Bitcoin, é que quanto maior for a sua fundamentação como Instituição Social para a economia, maior será a necessidade ou vontade de controle ou regulamentação por terceiros ou meios centralizadores de poder. Caso isto aconteça, as criptomoedas e principalmente o Bitcoin terão retidos os seus valores como um contrato social anônimo, descentralizado e libertador dos meios controladores governamentais inescrupulosos.
Outro paradigma conspícuo do Bitcoin, resolvido em parte com o surgimento das Stablecoins, é a sua volatilidade de preços e variação cambial, o que a limita de certa forma de se tornar a nova camada de contrato social sobre as economias mundiais estáveis.
Esta problemática nos leva a pensar que mesmo numa relação econômica desconfortável, como a que é mediada pelos Governos atualmente, a estabilidade econômica que este oferece nos traz mais credibilidade que a de modelos instáveis, e assim nos persuade a não migrarmos para tais modelos que apresentem contratos sociais não confiáveis.
De fato, ao ser criado o Bitcoin, seu desenvolvedor não criou um novo modelo econômico, mas sim, otimizou-o. Através da digitalização econômica e criptografia em blockchains, o Bitcoin surgiu como uma alternativa semelhante a já existente, mas aplicada de uma nova forma que traria benefícios a seus usuários.
Desta forma o Bitcoin trouxe substanciais mudanças no modelo econômico mundial e ao contrato social que abrangem as moedas fiduciárias, onde:
– Seus detentores são seus próprios controladores, sem inferência governamental.
– Seus detentores são os proprietários das chaves que permitem a sua utilização, sem a probabilidades de serem confiscadas.
– Qualquer investidor pode utilizar o Bitcoin sem a passividade de censuras legais ou governamentais.
– O Bitcoin, assim como boa parte das criptomoedas, serão resistentes à inflação mediadas por superprodução ou impressão (como ocorre com as moedas FIAT), uma vez que são limitadas e controladas as suas produções.
– As normativas, produção e armazenamento do Bitcoin podem ser auditados por qualquer usuário através de uma ampla rede de informações que cerceiam a sua falsificação.
Desta forma, os protocolos das criptomoedas e principalmente do Bitcoin automatizam o contrato acordado na camada social, enquanto esta determina as suas regras com base no consenso de seus usuários.
E aí está mais um possível problema. Uma vez controlada por uma camada social, esta poderá ser reavaliada constantemente, podendo ter o seu contrato social alterado circunstancialmente.
Mas isto seria possível?
Sim, desde que uma parte significativa de seus produtores ou mineradores optem por fazer. Apesar de que com isto o Bitcoin poderia se apresentar como um modelo supostamente instável e perigoso de contrato social, ressalto que um grupo pequeno de pessoas não poderia realizar implementações drásticas ou prejudiciais ao Bitcoin, uma vez que a outra grande maioria seguiria o mesmo padrão mantenedor das regras básicas!
Não podemos deixar de lado que problemas de sistema, como bugs e invasores, além das diferenças de ego que podem acarretar em prejuízos ao contrato social que é o Bitcoin. Todavia, quando estes bugs acontecem rapidamente seus desenvolvedores corrigem suas falhas implementando novas regras à rede. A preocupação está nas discrepâncias de ego, e as mudanças podem não ser reconhecidas e seguidas por todos e assim fragilizar o sistema.
Quando não aceitos, surgem os “Forks”, que são modificações básicas nos protocolos de criptomoedas, como já aconteceu com o Bitcoin, e que dividem a rede em frações que podem ser perigosas em múltiplos aspectos.
Primeiramente, os Forks geram “duas novas redes” de desenvolvedores e seguidores, tornando-as mais frágeis separadamente. Além disso, ao se alterar o protocolo de cada rede, isto poderia interferir no contrato social do Bitcoin.
Assim entende-se, pois os tokens como o do Bitcoin não possuem valor, este é apenas um conjunto criptografado de informações numa blockchain! Seu valor é apenas aquele proveniente de um contrato social entre seus usuários. Ao se fazerem “Forks”, acabe-se gerando dois novos contratos sociais mais fracos, segmentando o número de usuários, mineradores e o seu potencial tecnológico.
Inclusive, uma dessas duas novas redes poderia simplesmente parar de existir, uma vez que dependeria da sua manutenção a fidelização de usuários, além da atribuição a si de um novo valor econômico aceito pela comunidade.
Desta forma, fica claro que o protocolo do Bitcoin é mantido por organizações e indivíduos de forma voluntária, assim como as mudanças nestes protocolos dependem destas pessoas ou Instituições que são seus desenvolvedores.
Isto nos leva a pensar que as futuras gerações poderão mudar os protocolos e os princípios do Bitcoin, o que não seria benéfico uma vez que poderia inferir contra o contrato social e fundamentos para os quais o Bitcoin foi criado.
O fato é que parte disto já vem acontecendo. Nos últimos anos as visões políticas e econômicas do Bitcoin e das Criptomoedas têm sido diferentes, e tem causado certa segmentação em sua comunidade, o que afeta a sua confiabilidade e sua evolução. Caberá às futuras gerações serem resilientes ao Sistema, e ao contrato social imaginado e criado por Satoshi Nakamoto para que no futuro os fundamentos e protocolos do Bitcoin não sejam diferentes dos que conhecemos atualmente, pois estes fundamentam a sua existência.
Para mais informações recomendo a leitura de toda a série de publicações (Versículos e Capítulos) do: “Evangelho de Satoshi Nakamoto”. https://bitnoticias.com.br/page/3/?s=evangelho