Tendo em vista a centralização monetária dos Bancos e Governos em relação às moedas FIAT e demais formas de transações financeiras; fugindo da inflação monetária, dos juros e das taxas impostas por estas Entidades centralizadoras; e esquivando-se do controle abusivo das finanças da população em geral impetrada por Órgãos regulatórios centralizados, que um novo tipo de ativo financeiro digital foi criado para libertar e descentralizar a economia mundial. Surgiram assim, as criptomoedas.
Todavia, as moedas digitais constituem um mercado de alta volatilidade e inflação fiduciária, tendo como um de seus pontos mais marcantes a forma conspícua com o qual os movimentos de “pumps” (quando subitamente o valor de um ativo ascende no mercado) e “dumps” (quando subitamente o valor de um ativo descende no mercado) ocorrem em questão de horas.
Esta ampla volatilidade é muito interessante para investidores, todavia traz três paradigmas em relação ao fundamento real para o qual as criptomoedas foram criadas: 1 – ser uma unidade de valor financeiro; 2 – substituir o dinheiro centralizado nas transações financeiras simples de compra e venda de bens duráveis e insumos diários. 3 – serem utilizadas como reserva de valores.
Esta problemática não foi levantada agora, uma vez que as criptomoedas estão sendo mais conhecidas e transacionadas no mundo digital. O criador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, quando criou a página do Bitcoin e comunicou seu lançamento na P2P Foundation, submeteu um anúncio através da postagem intitulada “Bitcoin Open Source Implementation of P2P Currency”.
Nesta postagem houve um questionamento formalizado pelo perfil Sepp Hasslberger, em fevereiro de 2009, a respeito da estabilização do preço do Bitcoin ao longo do tempo. Assim questionou Halsslberg: “… se ele for usado para pagamentos, você não deseja grandes alterações de valor das moedas. Isso levaria a distorções, acredito, aumentando continuamente o poder de compra de uma única moeda”!
Satoshi respondeu que ao criar o Bitcoin visou a estabilidade quanto ao número de moedas, não quanto a seu preço. E pontuou que não saberia dizer como a estabilização do seu valor aconteceria, mas hipotetizou que poderia ser através de uma outra parte, apenas não imaginava qual!
Satoshi estava certo, e tendo em vista esta necessidade para sedimentar e apetecer o interesse deste ativo pela sociedade que surgiram as moedas digitais estáveis ou Stablecoins.
Neste tocante, as Stablecoins são moedas digitais relativamente alheias à volatilidade do mercado das criptomoedas, e entraram no mercado com o intuito de serem o modelo financeiro de substituição do ativo FIAT no mundo.
Entretanto, os desafios de se criar uma moeda digital que seja estável em preço, mas que por sua vez pode ser instável em demanda é bastante complexo. Mas independentemente disto, as Stablecoins devem apresentar além da estabilidade, também escalabilidade, privacidade, e um potencial descentralizador, ou não tomarão seu lugar na descentralização econômica do mundo.
Uma vez entendido o papel das Stablecoins, vamos a elas. Para se tornarem estáveis, estas moedas digitais devem ser lastreáveis a algo, ou seguirem padrões de algoritmos construídos em plataformas de blockchains, entre outros processos menos utilizados.
Atualmente existem 6 formas de se produzir uma Stablecoin, as listarei aqui, citando as moedas que se encaixam em cada caso:
1 – FIAT-collateralized. Podem ser pareadas ao valor de qualquer moeda FIAT, mas normalmente são lastreadas ao Dólar. Estas englobam uma grande fatia delas. É o caso da: Theter (USDT); Trust Token (TrueUSD); Paxos (PAX); Gemini Dolar (GUSD); Stably ou StableUSD (SBC); AAA Reserve (AAA); Circle (USDC); X8X Token (X8X); Statstics (SBC); Globcoin (GLX); e Stronghold (USDS).
2 – Metal Backed Stablecoin. Podem ser pareadas ao valor de qualquer minério, mas normalmente são lastreadas ao valor do ouro. É o caso da Digix Global (DGX); e HelloGold (HGT).
3 – Cripto-collateralized. Podem ser pareadas ao valor de outras Altcoins (e ao número delas, também). Este processo é um pouco mais complexo, mas basicamente há a troca constante de criptomoedas por criptomoedas dentro de um sistema altamente controlado, tudo organizado pela plataforma a qual este mecanismo é utilizado. Para isto, agregam-se mais ou menos moedas de troca de acordo com a depreciação ou valorização de seus valores. É o caso da MakerDAO (DAI); Bitshares (BitUSD); HAVVEN (NUSD); Augmint (A-EUR); e Sweetbridge (SWC).
4 – Algorithmic Supply Stablecoins. Estas Stablecoins são fundamentadas em algoritmos proporcionais produzidos pela Blockchain, não sendo lastreadas a ativos como moedas FIAT, minérios, ou demais moedas digitais. Estes algoritmos se “expandem” ou se “contraem” de acordo com a variação de preço da criptomoeda ou a sua demanda, ajustando o seu valor como Stablecoin. É o caso da Carbon (CARBON); e Kowala (kUSD). Recentemente, a BASIS, uma das primeiras Stablecoins fundamentadas em algoritmos decidiu por fechar as portas devido às orientações regulatórias americanas.
5 – Hybrid Stablecoin Models. Utilizam de certa forma, meios “substancialmente” centralizados de lastreamento. Cada moeda possui a sua forma de estabilizar o seu Token, através de uma cesta de ativos dentro de Bancos. Muitas vezes segmentadas em vários processos, são pouco atrativas por utilizarem um primeiro passo centralizador para a sua estabilização. É o caso da Reserve (RESERVE); Aurora-Boreal (AURA); e Saga (SGA).
6 – Alternative Stablecoin Models: De fato, estas formas alternativas de Stablecoins são fundamentadas em protocolos brevemente modificados de classes de Stablecoins, como as FIAT- e Algorithimic-collateralized. É o caso da Stableunit (SU); Terra Money (Terra); e Phi (PHI).
Pois bem, agora que já conhecemos basicamente o que são Stablecoins e as classes às quais estas se dividem (ou protocolos aos quais se baseiam para manterem-se estáveis), e como vimos que trata-se de um “outro” mundo de criptomoedas, de certa forma alheias em propósito em relação ao Bitcoin e às Altcoins, nas próximas reportagens da série entraremos mais profundamente em cada classe, apresentando de forma mais sedimentada cada uma delas e as moedas digitais estáveis que as constituem.
Um grande abraço, meus caros, e até a próxima.