Em entrevista à BBC, Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, afirmou que o choque econômico devido a pandemia do coronavírus já é maior do que a crise financeira de 2008 ou a de 2001.
Para Gurría, um crescimento global previsto para este ano de 1,5%, disse, já soa otimista demais. O secretário-geral também prevê que quase todas as grandes economias do mundo entrarão, nos próximos meses, em recessão.
“A razão é que não sabemos o quanto demandará a recuperação dos empregos porque não sabemos quantas ficarão desempregadas ao fim disso tudo. Também não sabemos o que precisaremos para resgatar as milhares de pequenas e médias empresas que já estão sofrendo.”, afirmou.
Ele também defendeu que os governos ignorem os preceitos dominantes sobre endividamento público e utilizem “tudo o que for possível” para lidar com a crise. Por outro lado, alertou que esses déficits públicos e montanhas de endividados pesarão muito para os países nos próximos anos.
Recuperação econômica
Autoridades do G20 acreditavam semanas atrás que a recuperação econômica seria como a letra “V”. Ou seja, queda brusca da atividade econômica seguida de recuperação acentuada.
“Eu discordo da ideia de um fenômeno em ‘V’. No melhor dos cenários, será como um ‘U’, com uma longa linha na base até atingirmos um período de recuperação. Nós podemos evitar que ele se pareça com um ‘L’, se tomarmos hoje as decisões certas.”
Atualmente, a OCDE defende que o mundo adote um plano com quatro pilares para enfrentar a pandemia atual. Ele inclui exames gratuitos para diagnosticar a doença, melhores equipamentos para profissionais de saúde, transferências de recursos para trabalhadores, incluindo os autônomos, e adiamento da tributação para empresas.
Impacto econômico no Brasil
Desde janeiro, as análises sobre o impacto do surto na economia do Brasil apontam um cenário cada vez mais negativo.
Em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro falava em impacto de menos de 1 ponto percentual no crescimento previsto em torno de 2% do PIB. Na sexta-feira (20), o governo cortou sua projeção oficial de 2,1% para 0,02%.
No entanto, analistas e pesquisadores apontam que o Brasil pode enfrentar um recuo da economia, em patamar que lembra a crise financeira de 2008 e a greve dos caminhoneiros em 2018.
Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas, o PIB brasileiro pode recuar 4,4% em 2020. Para o banco Itaú, se a economia brasileira sofrer uma paralisação tal qual ocorreu na China durante as quarentenas impostas, o PIB pode cair 0,7% neste ano.
Infelizmente, as expectativas econômicas têm desabado ao redor do mundo. No início deste mês, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) previu que a pandemia poderia custar à economia global até US$ 2 trilhões neste ano (cerca de R$ 10 trilhões).
Fonte: BBC Brasil.