- Bitcoin deixou de ser símbolo de resistência e virou pauta de poder estatal.
- Governos e partidos políticos disputam a narrativa da descentralização.
- Europa e EUA usam o Bitcoin como ferramenta estratégica e política
Durante a PlanB Conference, em Lugano, neste sábado (25), o Bitcoin deixou de ser tema técnico e passou a ser pauta de poder. Representantes de diversos países debateram o avanço da adoção da moeda e concordaram: o libertarismo que deu origem ao Bitcoin foi capturado pelos políticos. O que nasceu como símbolo de autonomia financeira, descentralização e resistência ao controle estatal agora serve como instrumento de influência e estratégia geopolítica.
O ex-chanceler austríaco Sebastian Kurz afirmou que o debate sobre o Bitcoin “deixou de ser apenas econômico e se tornou ideológico”. Para ele, partidos liberais e de direita enxergam nas criptomoedas uma extensão do discurso de liberdade individual, enquanto setores mais à esquerda tratam o tema com desconfiança, temendo a perda de poder regulatório. “O avanço de governos liberais e nacionalistas está criando um ambiente mais aberto à inovação cripto”, afirmou.
Kurz acredita que essa mudança política na Europa empurra o Bitcoin para o centro das decisões de Estado. “O Bitcoin agora é uma ferramenta de poder, não apenas um ativo digital. Ele está no coração das políticas econômicas e regulatórias do continente”, disse. O discurso marcou um ponto de virada: a moeda que nasceu para escapar da política agora se vê usada como bandeira partidária.
Da perseguição ao controle
Nos Estados Unidos, a mudança de postura também é clara. Bo Himes, presidente do Conselho de Ativos Digitais de Donald Trump, criticou o governo Biden por adotar uma política “hostil e punitiva” contra o setor cripto. Segundo ele, a nova administração decidiu romper com esse modelo. “Era hora de construir uma abordagem baseada em educação, transparência e reconhecimento da inovação”, afirmou.
Himes explicou que o Bitcoin representa a essência da descentralização, funcionando como a “commodity digital por excelência”. No entanto, reconheceu que o governo americano agora tenta integrar o ativo como ferramenta estratégica nacional. “Apoiar a inovação deixou de ser ideologia. É uma questão de segurança econômica”, declarou.
Além disso, o assessor destacou que o país caminha para um sistema financeiro tokenizado, com mercados abertos 24 horas por dia e títulos públicos convertidos em blockchain. “Esse será o novo paradigma global: liquidez em tempo real e transações sem fronteiras”, disse.
Bitcoin e o poder dos Estados
Desse modo, o príncipe herdeiro da Sérvia, Filip Karadjorjević, foi direto: “Dois ciclos estão convergindo — o institucional e o estatal. Bancos, fundos e governos estão entrando no jogo do Bitcoin.” Ele afirmou que a criação de reservas nacionais e a inclusão de ativos digitais em políticas públicas já não são exceções, mas uma tendência global. “O Bitcoin virou política de Estado”, afirmou.
Além disso, Karadjorjević lembrou que cerca de 70 milhões de americanos possuem criptomoedas e que ignorar esse grupo pode decidir eleições. “Os líderes que compreenderem o poder social e econômico do Bitcoin sairão na frente”, alertou.
No Cazaquistão, o ministro da Economia, Zhaslan Madiyev, confirmou que seu governo trabalha em leis para integrar o Bitcoin à economia nacional. Ele revelou planos para construir uma cidade cripto e desenvolver sistemas de pagamento em blockchain para uso público. “A política e a tecnologia caminham juntas. Quem não se adaptar ficará para trás”, afirmou.
Assim, o consenso entre os líderes é claro: o Bitcoin deixou de ser um símbolo de rebeldia. O que nasceu como bandeira libertária, sem líderes e sem fronteiras, foi absorvido pelo poder dos Estados. Hoje, a luta pela liberdade digital se mistura à disputa por influência global — e o Bitcoin, antes insurgente, tornou-se parte do próprio sistema que buscava desafiar.


