Queridos, boa tarde, um pouco mais tarde hoje.

Ontem vimos o segundo versículo, hoje continuamos com a tradução da obra “Why I Wrote PGP“.
Um ano após a aprovação da CALEA, o FBI divulgou planos para exigir que as empresas de telefonia construíssem em sua infraestrutura a capacidade de escutar simultaneamente 1% de todas as chamadas telefônicas em todas as principais cidades dos EUA. Isso representaria um aumento de mais de mil vezes em relação aos níveis anteriores no número de telefones que poderiam ser interceptados. Nos anos anteriores, havia apenas cerca de mil escutas telefônicas nos Estados Unidos por ano, nos níveis federal, estadual e local combinados. É difícil ver como o governo poderia empregar juízes o suficiente para assinar ordens de grampeio de 1% de todas as nossa ligações, muito menos contratar agentes federais o suficiente para sentar e ouvir todo esse tráfego em tempo real. A única maneira plausível de processar essa quantidade de tráfego é uma enorme aplicação Orwelliana¹ de tecnologia automatizada de reconhecimento de voz para analisar tudo, procurar por palavras-chave interessantes ou procurar pela voz de alguém em particular. Se o governo não encontrar o alvo na primeira amostra de 1%, as escutas telefônicas podem ser transferidas para outro 1% até que o alvo seja encontrado ou até que a linha telefônica de todos tenha sido verificada por tráfego subversivo. O FBI disse que eles precisam dessa capacidade para planejar para o futuro. Este plano provocou tal indignação que foi derrotado no Congresso. Mas o simples fato de que o FBI pediu por esses amplos poderes já nos revela sua agenda.
Avanços na tecnologia não permitirão a manutenção do status quo, no que se refere à privacidade. O status quo é instável. Se não fazermos nada, as novas tecnologias darão ao governo novas capacidades de vigilância automática com as quais Stalin não poderia nunca ter sonhado. A única maneira de manter a linha de privacidade na era da informação é a criptografia forte.
Você não precisa desconfiar do governo para querer usar criptografia. Seu negócio pode ser interceptado por rivais empresariais, crime organizado, ou governos estrangeiros. Vários governos estrangeiros, por exemplo, admitem usar interceptação de sinais contra empresas de outros países para dar às suas próprias corporações uma vantagem competitiva. Ironicamente, as restrições do governo dos Estados Unidos à criptografia nos anos 90 enfraqueceram as defesas corporativas dos EUA contra a inteligência estrangeira e o crime organizado.
O governo sabe o papel fundamental que a criptografia está destinada a desempenhar na relação de poder com seu povo. Em abril de 1993, a administração Clinton revelou uma nova e ousada iniciativa de política de criptografia, que estava em desenvolvimento na Agência Nacional de Segurança (NSA) desde o início da administração Bush. A peça central dessa iniciativa era um dispositivo de encriptação criado pelo governo, chamado de chip Clipper, contendo um novo algoritmo de criptografia secreto da NSA. O governo tentou encorajar a indústria privada a projetá-lo em todos os seus produtos de comunicação segura, como telefones, faxes, e assim por diante. A AT&T colocou o Clipper em seus produtos de voz seguros. A pegadinha: no momento da fabricação, cada chip Clipper é carregado com sua própria chave única, e o governo consegue manter um cópia, mantida como garantia. Não é de se preocupar, no entanto – o governo promete que usará essas chaves para ler seu tráfego somente “quando devidamente autorizado por lei”. É claro que, para tornar o Clipper completamente eficaz, o próximo passo lógico seria proibir outras formas de criptografia.
¹ Referência ao livro “1984” de George Orwell, que é leitura obrigatória! Se você ainda não leu, DEVE LER.

Por hoje é isso meus amigos, amanhã volto com a última parte desse capítulo.
Até, e ricas bençãos.