Com a crescente abrangência dos ativos digitais na economia e na sociedade em geral, alguns termos e conceitos vão se tornando cada vez mais conhecidos.
Um destes conceitos são os tokens, e são os ativos mais diversificados do mundo criptográfico no momento.
O conceito de token veio para criar um novo segmento ao grupo de criptoativos que até então era formado apenas pelas criptomoedas e seu garfos (ou Forks, como são conhecidos).
Quando o russo Vitalik Buterin criou a blockchain do Ethereum (ETH) no início de 2014, o protocolo trouxe consigo a possibilidade de criação de contratos inteligentes.
Assim, o ecossistema das blockchains gerou a possibilidade da criação de novos ativos dentro da própria rede ETH, e com isso surgiu a classe dos tokens.
Com o passar do tempo, a praticidade de se utilizar a rede ETH para se gerar criptoativos foi tomando conta do ambiente das finanças digitais, e os tokens passaram a inundar o mercado cripto.
Tokens de Segurança
Os token de segurança são ativos emitidos através da Oferta de Token de Segurança (Security Token Offering – STO), ou através de Oferta Inicial de Moeda (Initial Coin Offering – ICO).
Os tokens de segurança forneceram aos protocolos uma forma alternativa de captação de recursos financeiros garantido pela emissão de tokens tangíveis, que normalmente foram utilizadas por empresas privadas ou de capital aberto.
Este tipo de token de segurança, para ser assim fundamentado, deve preencher os quesitos do teste de Howey, conforme rege a Legislação americana.
Os tokens de segurança utilizam plataformas próprias da rede Ethereum, como o Polymath (ST-20), o Swarm (SRC20), Securitize (Protocolo DS), e o Porto (R-token).
Tokens Utilitários
Mais comum que os tokens de segurança são os tokens utilitários.
Este tipo de criptoativo teve amplo crescimento no mercado no hype das ICOs do final de 2017 a meados de 2018, quando um número imenso de criptoativos inundaram o mercado cripto.
Os tokens utilitários são os criptoativos emitidos exclusivamente para a captação de fomento para o desenvolvimento de projetos de ativos digitais em blockchain.
Resumidamente, são tokens fungíveis ou lastreados a algo fungível.
Os tokens utilitários se mostraram amplamente voláteis ao longo de sua existência, inclusive muitos já deixaram de existir junto com seus protocolos que sucumbiram ao período crítico de desvalorização dos criptoativos em 2018.
Pois bem, ambos estes tipos de tokens, de segurança e utilitários, se desmembraram em grupos específicos de ativos aos quais abordaremos a seguir.
Tokens Estáveis
Os tokens estáveis, também conhecidos como stablecoins, vieram ao mercado para preencher a principal lacuna que havia no ecossistema criptográfico: a volatilidade.
A criptomoeda foi idealizada por cypherpunks e o modelo que conseguiu abranger o mercado foi o Bitcoin.
Satoshi Nakamoto, o seu criador, idealizou o Bitcoin como uma forma de pagamento que não necessitaria de terceiros ou de mediadores institucionais financeiros.
A problemática estava na abrangência do método, que utilizado em baixa escala, se tornava amplamente volátil restringindo de certa forma a sua utilização.
Até devido à certa demora no processamento da transação, e a volatilidade da primeira criptomoeda do mercado que novos criptoativos foram surgindo.
Alguns mais rápidos, outros mais privados, nenhum deles conseguia ser estável o suficiente para resolver o problema de valorização ou desvalorização do pagamento durante o processamento da transação, que poderia levar horas ou até dias.
Foi neste espaço conturbado que surgiram as moedas estáveis lastreadas em moedas FIAT, como o dólar, por exemplo; em commodities como o ouro, e até em cestas de ativos ou criptoativos.
Atribuir lastro físico aos tokens tornou-os estáveis, e o ecossistema cripto resolveu um problema que tirava a credibilidade das criptomoedas como meio de pagamento seguro diante de sua imensa volatilidade.
Durante a redação desta reportagem, devido à expressiva alta recente dos criptoativos, o USDTether, principal stablecoin do mercado batia recordes de abrangência, captando mais de US$17 bilhões de dólares para o mercado.
De fato, atualmente existe uma quantidade variada de stablecoins no mercado, e o seu lastro pode ser dado de diversas formas, conforme alguns exemplos citados acima.
Para aqueles que quiserem aprofundar o conceito de criptoativos estáveis, o Artigo Stablecoin é bastante recomendado.
Criptoativos Tokenizados
Recentemente uma nova classe de tokens surgiu no mercado, são os tokens “tokenizados”, se assim podemos pontuar.
Na verdade, os criptoativos tokenizados trouxeram lastro ao token em uma criptomoeda já existente, o Bitcoin.
Conhecidos como bitcoins tokenizados, esta classe de criptoativos foi criada para fornecer maior liquidez dentro dos protocolos de finanças descentralizadas (DeFis), e dentro das DEX, as exchanges descentralizadas.
A principio a ideia arremeteu os entusiastas das criptomoedas a uma interpretação dúbia sobre o ativo, por praticamente dobrar o número de Bitcoins existentes no mercado.
Não que seja bem isso ao pé da letra, mas é que por fundamento, uma quantidade de Bitcoin deve ficar “preso” dentro de uma plataforma DeFi para que a mesma quantia de Bitcoin tokenizado seja produzido.
E assim, é como se 1 Bitcoin se transforasse em 2 dentro de um protocolo DeFi.
A aceitação deste tipo de “Bitcoin falso” foi grande, e o mercado cripto tem visto cada vez mais Bitcoins tokenizados surgirem, assim como tem visto mais Bitcoins de verdade serem guardados em custódia ou como garantia para os contratos inteligentes dentro de protocolos DeFi.
O Wrapped Bitcoin (WBTC) é o mais abrangente do mercado, e a cada dia vem quebrando recordes de valor ou de tokens utilizados dentro das exchanges e protocolos de finanças descentralizadas.
Tokens de Garantia
Os tokens de garantia foram basicamente inseridos aos protocolos DeFi para propiciarem liquidez dentro da blockchain.
Para isto, os desenvolvedores dos protocolos criam tokens específicos para serem transacionados livremente dentro do protocolo, enquanto outros criptoativos são deixados como garantia.
Muitos tokens de garantia servem como meio de voto para a comunidade utilizar nas definições, alterações ou decisões dentro do protocolo.
Os próprios criptoativos tokenizados constituem tokens de garantia, e os tokens não fungíveis (NFTs), ao qual abordaremos a seguir, também podem servir como tokens de garantia.
Token Não Fungível (NFT)
Os NFTs são tipos de token que possuem características únicas que o distingue de outras classes de ativos e até mesmo de outros NFTs.
Não é possível se gerar um NFT igual a outro, este também não é minerável e não pode ser copiado ou dividido.
Um NTF é um ativo que não pode ser fracionado para a venda. Quem obtive-lo será por inteiro.
É um tipo de token que cria escassez digital, sem possuir uma Organização ou Instituição centralizadora para o autentique.
De fato, este é o tipo de criptoativo mais escasso que existe, e assim pode apresentar valores inestimáveis.
É o caso de um NTF que foi comercializado com o valor de US$120.000 dólares dentro de um jogo em blockchain, o Cryptokitties.
Falando em jogos, por enquanto a maior utilização de NFTs tem sido em jogos (games), mas a sua usabilidade já está se espalhando pelo comércio e mundo das finanças.
Normalmente os novos jogos que tem surgido utilizando blockchains estão produzindo itens colecionáveis únicos, criados dentro do próprio jogo e podem ser comercializados entre os jogadores.
A empresária Paris Hilton já tokenizou um desenho digital em um NTF, garantindo a autenticidade de sua obra e atribuindo valor intrínseco ao produto. Na ocasião a peço foi vendida por 40 Ethereums.
A NBA, o UFC, e a banda de indierock Muse também produziram NFTs colecionáveis onde usuários podem adquirir produtos exclusivos, não reprodutíveis ou copiáveis.
Os NFTs poderão ser produzidos para substituir documentos de autenticidade de posse de qualquer bem ou produto exclusivo de seu proprietário.
Uma casa, um carro, uma obra de arte, uma descoberta científica, um tipo de arma ou habilidade dentro de um jogo de internet, tudo poderá ser dado posse exclusiva a um proprietário detentor de um NFT.
Quando citamos tudo, especificam-se propriedade digitais ou tangíveis.
Até por isso, apesar de não poder ser divisível, o protocolo de um NFT possui uma propriedade ou possibilidade fantástica dentro de seu contrato inteligente.
Um NFT pode trazer especificado em seu contrato inteligente a parcela de posse daquele bem a diversos proprietários.
Isto faz com que o produto seja único, mas a sua posse seja distribuída.
Fazendo uma analogia, é o DNA de uma criança, onde o filho é único, mas seu DNA possui partes do pai e da mãe, o que significa que esta criança é 50% “propriedade” de cada genitor.
Para um exemplo prático faremos a alusão a produção de uma música e de sua propriedade contratual e intelectual em NFT.
Imaginemos que um artista cria a letra de uma música, o outro cria as batidas musicais, e por fim um terceiro masteriza e equaliza a música.
Este produto único, a música, então é colocado dentro um NFT como propriedade intelectual.
No contrato inteligente ficarão designadas as partes autorais, iguais ou desiguais de acordo com o entendimento de seus autores, e cada montante será definido e especificado em porcentagens dentro do contrato inteligente.
Esta música poderá ser normalmente reproduzida e vendida em meios sociais, mas a propriedade da música ficará com seus autores.
Estes também poderão vender esta propriedade (que é o NFT), e a lucratividade e a sua forma de divisão estarão disponíveis no contrato inteligente do token.
Outro uso para os NFTs está sendo o licenciamento de softwares, aos quais poderão reduzir drasticamente o crime de pirataria.
Por fim, os NFTs poderão se tornar uma tecnologia imutável para se manter credenciais acadêmicas; títulos de Instituições e Clubes; documentos diversos como certidões de nascimento, casamento e óbito, além de carteira de motorista, identidade, entre outros; utilizado em eleições (votos); entre outros diversos tipos de garantia.
Token Não Fungível (NFT) – Blockchain
Os tokens não fungíveis são normalmente produzidos na rede Ethereum, mas não no padrão comum ERC-20, como são os tokens fungíveis.
Os NTFs utilizam padrões e protocolos diferentes, como o ERC-721 e o ERC-1155 da rede Ethereum.
As blockchains da NEO e da EOS também já estão desenvolvendo seus próprios NFTs.
Protocolos DeFi como o Compound já estão utilizando NTFs como Tokens de governança.
Cada token utiliza os metadados exclusivos que o distingue de outro token, fungível ou não fungível.
Este também é assinado digitalmente pelo criador da conta antes de ser armazenado no objeto IPFS.
Em troca, o multi-hash do IPFS é usado como uma chave secreta para a conta/usuário associado ao token.
A tecnologia por trás do token não fungível foi criada por Witek Radomski, cofundador do EnjinCoin, em 2017.
De acordo com Radomski, com o novo padrão ERC-1155 pode-se usar um número infinito de itens não fungíveis e fungíveis em um único contrato inteligente implantado.
O protocolo ERC-1155 é uma evolução do ERC-721, ambos da rede EThereum.
Este novo protocolo também tornou mais fácil a manipulação e comercialização do token dentro da rede blockchain
Conclusão
Os tokens abriram as portas para a tecnologia blockchain ocupar lugares distintos da sociedade e da economia, além do que as criptomoedas já estavam fazendo.
Mais que um meio de troca e pagamentos, os tokens, principalmente da rede Ethereum, vieram ao mundo para mostrar para empreendedores digitais que o mundo da blockchain poderia ser muito maior do que já se era prometido.
Apesar de terem os seus princípios degradados em partes devido a projetos scam ou projetos mal elaborados, assim como tudo na vida uma nova tecnologia apresenta seus prós e contras.
Entretanto, muito destes contras tiveram o suporte de pessoas que colocaram a possibilidade de lucros infinitos à frente dos fundamentos e cuidados que este novo mundo exigia.
A tecnologia por trás de cada token útil que surge no mercado cripto expande as utilidades das blockchains, e nos fazem imaginar um mundo tomado ou sedimentado sobre uma tecnologia digital robusta, segura, transparente, auditável, na maioria das vezes rastreável e incorruptível.