Daí meu povo, boa tarde!
No dia de hoje a World Wide Web faz 30 anos. Lá atrás era coisa de louco, de nerd, de pornógrafos, pedófilos, criminosos, e afins. Hoje ninguém vive sem.. Que será que vai acontecer com as criptomoedas daqui a duas décadas, já que uma já passou desde a invenção do Bitcoin. Eu não tenho dúvidas, vocês tem?
No último versículo, a penúltima parte da obra “Crypto Anarchy and Virtual Communities”. Hoje a última.
Conclusões
A criptografia forte fornece novos níveis de privacidade pessoal, o que é ainda mais importante em uma era de maior vigilância, monitoramento e de maior tentação em exigir provas de identidade e permissão. Algumas das “credenciais sem identidade”, trabalho de Chaum e outros, podem diminuir esse movimento em direção a uma sociedade de vigilância.
As implicações são, a meu ver, que o poder dos estados-nação será reduzido, as políticas de arrecadação de impostos terão de ser mudadas, e as interações econômicas serão baseadas mais em cálculos pessoais de valor do que em mandatos sociais.
Isto é uma boa coisa? Majoritariamente sim. A criptoanarquia tem alguns aspectos confusos, disso pode haver pouca dúvida. De coisas relativamente sem importância, como fixação de preços e insider trading, a coisas mais sérias, como espionagem econômica, o enfraquecimento da propriedade do conhecimento corporativo, a coisas extremamente obscuras, como mercados anônimos de assassinatos.
Mas não esqueçamos que os Estados-nação, sob o pretexto de nos proteger dos outros, mataram mais de 100 milhões de pessoas só neste século [no passado né, o texto é do século anterior]. Mao, Stalin, Hitler, Pol Pot, apenas para citar os exemplos mais extremos. É difícil imaginar qualquer nível assassinatos por contrato digital chegando perto da barbárie do Estado. (Mas eu concordo que isso é algo sobre o qual não podemos falar com precisão; não acho que tenhamos muita escolha em aceitar a criptografia ou não, então eu escolho por focar no lado positivo.)
É difícil argumentar que os riscos de mercados anônimos e evasão fiscal são justificativas para a supressão mundial das ferramentas de comunicação e criptografia. As pessoas sempre se mataram, e os governos não impediram isso (sem dúvida, elas tornam o problema muito pior, como as guerras deste século [do anterior] mostraram).
Além disso, existem vários passos que podem ser tomados para diminuir os riscos da criptoanarquia impingir à segurança pessoal. ¹
A criptografia forte fornece um meio tecnológico de garantir a liberdade prática de ler e escrever o que se deseja. (Embora talvez não em seu verdadeiro nome, como a democracia do Estado-nação provavelmente ainda tentará controlar o comportamento através de votos majoritários sobre o que pode ser dito, não dito, lido, não lido, etc.) E, claro, se a fala é livre, também são muitas classes de interação econômica que estão essencialmente ligadas à liberdade de expressão.
Uma mudança de fase está chegando. As comunidades virtuais estão em ascensão, substituindo as noções convencionais de nacionalidade. A proximidade geográfica não é mais tão importante quanto antes.
Muito trabalho ainda falta. A criptografia técnica ainda não resolveu todos os problemas, o papel das reputações (tanto positivas quanto negativas) precisa de mais estudos, e as questões práticas que envolvem muitas dessas áreas mal exploradas.
Nós seremos os colonizadores do ciberespaço.
Agradecimentos
Meus agradecimentos aos meus colegas do grupo Cypherpunks, todos os 700, passados ou presentes. Bem mais de 100 megabytes de tráfego passaram pela lista de discussão. Por isso tem havido muitas ideias estimulantes. Mas, especialmente, meu apreço é dirigido a Eric Hughes, Sandy Sandfort, Duncan Frissell, Hal Finney, Perry Metzger, Nick Szabo, John Gilmore, Whit Diffie, Carl Ellison, Bill Stewart, e Harry Bartholomew. Agradeço também a Robin Hanson, Ted Kaehler, Keith Henson, Chip Morningstar, Eric Dean Tribble, Mark Miller, Bob Fleming, Cherie Kushner, Michael Korns, George Gottlieb, Jim Bennett, Dave Ross, Gayle Pergamit e – especialmente – o falecido Phil Salin. Finalmente, obrigado por valiosas discussões, às vezes breves, às vezes longas, com Vernor Vinge, David Friedman, Rudy Rucker, David Chaum, Kevin Kelly e Steven Levy.
Referências e Notas
As notas e referências já postei nos rodapés ao longo do texto.
¹ Robin Hanson e David Friedman escreveram extensivamente sobre cenários para lidar com ameaças de extorsionistas, pretensos assassinatos, etc. Espero que algum trabalho deles seja publicado algum dia. (Grande parte da discussão foi em 1992-3, na lista de discussão “Extropians”.)
Foi esta a tradução de “Crypto Anarchy and Virtual Communities”, de Tim May, publicada em dezembro de 1994. Esperam que tenham gostado! Amanhã o Capítulo 14. Abraço e fiquem com Deus.