- Erro da Paxos expõe fragilidade das stablecoins reguladas
- Falha de US$ 300 trilhões reacende alerta global
- Prova de reservas ganha força após incidente histórico
O mercado de criptomoedas viveu um susto histórico nesta quarta-feira (16). O Departamento de Serviços Financeiros de Nova York (NYDFS) confirmou que a Paxos, emissora do PayPal USD (PYUSD), acidentalmente emitiu US$ 300 trilhões em stablecoins sem lastro. O erro, que durou pouco mais de uma hora, acendeu um alerta global sobre a fragilidade operacional das stablecoins.
Segundo o órgão regulador, a Paxos e o PayPal foram imediatamente contatados para prestar esclarecimentos. A empresa conseguiu corrigir a falha e garantiu que nenhum cliente foi afetado. Ainda assim, o tamanho do erro expôs riscos sistêmicos de um setor que movimenta trilhões e serve como base para o ecossistema cripto.
Erro de digitação virou desastre digital
Tudo começou com uma transferência rotineira de US$ 300 milhões entre carteiras controladas pela Paxos. O problema surgiu por um simples erro de digitação. Em vez de 300 milhões, a empresa acabou emitindo 300 trilhões, multiplicando a oferta do PYUSD além do PIB mundial.
Um ex-engenheiro da Salesforce, Sam Ramirez, detalhou que a equipe tentou remintar tokens queimados, mas acabou duplicando a emissão. Em apenas uma hora, a Paxos queimou o excesso e restaurou o equilíbrio, mas o estrago à reputação estava feito. O caso superou até o erro do Citigroup, que em 2023 creditou acidentalmente US$ 81 trilhões a um cliente.
Apesar da correção rápida, a falha levantou dúvidas sobre a ausência de validações automáticas e auditorias em tempo real. Especialistas afirmam que o mercado de stablecoins depende de controles mais rígidos, já que basta um zero errado para gerar caos financeiro global.
Cadeia de confiança sob pressão
Zach Rynes, representante da Chainlink, afirmou que o incidente poderia ter sido evitado com o uso da Proof of Reserve (PoR). Segundo ele, esse tipo de verificação impede a emissão de tokens sem lastro, pois bloqueia automaticamente qualquer operação não respaldada por reservas reais.
A declaração reacendeu o debate sobre tornar obrigatória a PoR em stablecoins regulamentadas. Plataformas como a Zero Hedge destacaram que o episódio mostra como a confiança no operador é o elo mais fraco do sistema. Já pesquisadores de DeFi lembraram que o evento ocorreu logo após o PayPal anunciar parcerias de liquidez e integração com Tesouros tokenizados, levantando suspeitas sobre o momento do erro.
A empresa de dados Santiment informou que o evento atraiu atenção incomum pela magnitude da emissão e pela rapidez da correção. O valor de mercado das stablecoins, hoje próximo de US$ 310 bilhões, reforça o tamanho do risco.
No Brasil, não há registros de incidentes semelhantes. O BRZ, token lastreado em reais da Transfero, passa por auditorias periódicas, e o Projeto de Lei 4.308/2024 propõe a supervisão do Banco Central sobre emissoras locais. Para analistas, o caso da Paxos deve acelerar a adoção de verificações automáticas e transparência contínua, mostrando que o maior risco das stablecoins não são mais os hackers, mas seus próprios operadores.