- Preço do Bitcoin a US$ 1 milhão divide analistas
- Previsões ousadas atraem FOMO e polêmica
- Ouro ainda é referência de confiança global
O preço do Bitcoin pode realmente chegar a US$ 1 milhão? Essa é a pergunta que movimenta analistas, investidores e curiosos em todo o mundo. O debate ganhou ainda mais força depois que Eric Trump, filho do presidente dos Estados Unidos, declarou em uma conferência de criptomoedas na Ásia que o valor seria inevitável nos próximos anos.
Trump afirmou que a valorização virá principalmente da adoção institucional e da escassez da moeda, limitada a 21 milhões de unidades. Segundo ele, basta comprar agora e esperar alguns anos para ver retornos extraordinários.
Eric Trump não está sozinho nesse entusiasmo. Outros nomes de peso, como Jack Dorsey, fundador da Block, Changpeng Zhao, cofundador da Binance, e o autor Robert Kiyosaki, também já apostaram no Bitcoin a US$ 1 milhão até 2030. Alguns, como Samson Mow, acreditam que o valor pode ser alcançado ainda mais cedo, possivelmente em 2025.
Essas previsões alimentam a imaginação dos investidores e reforçam a narrativa de que o Bitcoin será o novo “ouro digital”, capaz de substituir até mesmo os ativos mais tradicionais da economia global.
Apesar do otimismo, especialistas pedem cautela. Para analistas de mercado, essas estimativas são mais estratégias de marketing do que análises fundamentadas. Petro Golovko, veterano do setor de ouro e diretor da British Gold Trust, considera a meta de US$ 1 milhão “altamente irrealista”.
Segundo ele, para que isso aconteça, o Bitcoin teria de substituir ativos como o ouro físico e as dívidas soberanas como principais referências de confiança. Hoje, o mercado de ouro movimenta mais de US$ 23 trilhões, enquanto o Bitcoin tem valor de mercado de cerca de US$ 2,2 trilhões.
“Previsões exatas de preço desviam o foco das questões estruturais, como a resiliência do Bitcoin em momentos de crise”, afirmou Golovko.

Preço do Bitcoin
Para muitos especialistas, o Bitcoin é um ativo reflexivo e especulativo, cujo desempenho depende mais da crença dos investidores do que de fundamentos econômicos tradicionais. Previsões audaciosas funcionam como combustível, reforçando a confiança e atraindo novos compradores, o que pode elevar o preço no curto prazo.
No entanto, esse movimento é também arriscado. Caso a liquidez desapareça ou a confiança diminua, o ativo pode sofrer fortes quedas. Por isso, mesmo que o Bitcoin chegue a valores próximos de US$ 1 milhão em um período de euforia, a sustentabilidade de longo prazo permanece em dúvida.
Outro ponto destacado é que previsões grandiosas são comuns em fases de mercado em alta. Matteo Greco, analista da Fineqia, lembra que durante cada ciclo de valorização surgem promessas de preços astronômicos.
“As narrativas criam FOMO, o medo de ficar de fora, atraindo novos investidores. Mas muitas vezes servem para dar liquidez a quem comprou antes e deseja vender”, disse Greco.
Esse padrão se repetiu em ciclos anteriores. Em 2020, muitos acreditavam que o Bitcoin superaria US$ 100 mil, mas o preço parou em US$ 69 mil. Agora, os alvos são ainda mais ousados, chegando a US$ 1 milhão.
Bitcoin e seus ciclos
Historicamente, a criptomoeda passou por ciclos de quatro anos, impulsionados pelos eventos de halving, que reduzem a recompensa paga aos mineradores. Esses momentos sempre foram seguidos por períodos de forte valorização, mas também por quedas significativas.
Se a lógica se repetir, 2025 pode marcar o auge do atual ciclo. Mas especialistas lembram que cada ciclo tem gerado retornos menores do que o anterior. Isso torna improvável que, em tão pouco tempo, o Bitcoin consiga multiplicar seu valor a ponto de alcançar US$ 1 milhão.
Comparar o Bitcoin ao ouro é inevitável. Ambos são vistos como ativos de proteção, mas o ouro carrega uma vantagem: sua ancoragem física. Para Golovko, o metal precioso sobreviveu por milênios justamente porque é um ativo material de confiança, imune às flutuações de narrativa.
Já o Bitcoin, embora apelidado de “ouro digital”, depende de fluxos contínuos de liquidez e confiança para manter sua força. Essa diferença estrutural limita a capacidade da criptomoeda de se tornar uma referência tão sólida quanto o ouro.
A fala de Eric Trump também mostra como a política influencia o debate. Desde que Donald Trump voltou à presidência, os Estados Unidos adotaram uma postura mais favorável às criptomoedas, com iniciativas como o GENIUS Act.
Além disso, a família Trump criou seu próprio token WLFI e até investiu em mineração de Bitcoin. Isso reforça a ideia de que as declarações otimistas podem estar ligadas também a interesses financeiros diretos.