- Bitcoin fecha dezembro em forte consolidação, preso entre US$ 84 mil e US$ 94 mil.
- Fluxo dos ETFs determina direção do preço, com saídas e entradas guiando cada movimento.
- Janeiro começa com mercado sensível, dependente de macro, fluxo institucional e possíveis decisões corporativas.
Dezembro terminou sem grandes surpresas para o Bitcoin, mas com muitos sinais importantes para quem observa o movimento institucional. O preço ficou preso em uma faixa estreita, com mínima em US$ 83.822 e máxima em US$ 94.588. A variação mensal de 12,8% parece alta, porém representa apenas um período de consolidação. Nesse ambiente, o comportamento dos grandes investidores guiou quase todas as oscilações do mercado.
A capitalização total do setor permaneceu perto de US$ 3 trilhões, e isso reforçou uma leitura: não houve entrada ou saída relevante de capital. O mercado apenas esperou. De acordo com a analista e trader parceira da Ripio, Ana de Mattos, o mês refletiu “uma disputa silenciosa entre compradores defensivos e vendedores estratégicos”. Ela avalia que a falta de direção clara mostrou “um mercado dependente de fluxo e de sinais macroeconômicos”.
O Indicador de Medo e Ganância terminou dezembro em 30 pontos, marcando uma fase de cautela, mas longe do pânico. Os investidores ficaram mais seletivos, e isso influenciou os movimentos de curto prazo.
O mês começou com um choque vindo do Japão. Os juros dos títulos locais de dois anos romperam 1% pela primeira vez desde 2008. O movimento forçou realocações globais e derrubou ativos de risco. O Bitcoin caiu para US$ 83.822 em 01/12 após uma onda de saída de capital.
ETFs de Bitcoin
Depois, o mercado virou a atenção para os Estados Unidos. A expectativa de corte de juros ganhou força e ajudou o Bitcoin a recuperar terreno. A máxima em US$ 94.588, no dia 9, marcou apenas um repique técnico. Em nenhum momento o ativo mostrou força suficiente para retomar a tendência de alta no curto prazo.
No dia seguinte, o Federal Reserve confirmou o corte de 0,25 p.p., reduzindo o intervalo para 3,50% a 3,75% ao ano. O mercado recebeu a decisão com alívio, mas sem euforia. A comunicação mais cautelosa do Fed limitou a reação positiva. “Foi um alívio sem convicção”, afirmou Ana. Para ela, a mensagem do banco central “evitou uma fuga para ativos de risco”.
Enquanto isso, os ETFs spot de Bitcoin assumiram o protagonismo. Saídas fortes derrubaram o preço, e entradas pontuais sustentaram os repiques. No dia 15, os ETFs de Bitcoin e Ethereum registraram US$ 582 milhões em resgates, o maior valor desde novembro. Isso coincidiu com uma rotação no mercado tradicional, quando investidores realizaram lucros em empresas de tecnologia e migraram para ações de valor.
Após essa pressão vendedora, o Bitcoin encontrou algum alívio técnico. A liquidez caiu nas semanas pré-Natal, e movimentos menores produziram impactos maiores. O BTC voltou à região de US$ 90.588, acompanhado por uma entrada expressiva de US$ 502 milhões nos ETFs no dia 17. No entanto, a barreira entre US$ 92 mil e US$ 95 mil continuou firme.
Na última semana do mês, o mercado voltou a travar. Em 29/12, o Bitcoin rondava US$ 87 mil, refletindo o comportamento típico de investidores institucionais: comprar quedas e vender repiques. “É um jogo de fluxo, e não de narrativa”, resume Ana.
O que observar em janeiro de 2026
O desempenho das altcoins foi mais seletivo. Zcash (ZEC) avançou 80%, enquanto Monero (XMR) subiu 42% entre mínima e máxima. Entre as maiores moedas, porém, faltou direção. Ethereum oscilou 28% no mês, Solana avançou 25% e XRP subiu 24%, mas nenhuma consolidou uma tendência sólida. Não houve altseason; houve apenas movimentos isolados.
Com o encerramento de dezembro, o mercado entra em janeiro mais sensível a três fatores principais: macro, fluxo e preço. Os dados de inflação e emprego nos Estados Unidos serão decisivos para determinar se o Fed continuará o ciclo de cortes ou adotará uma pausa. Qualquer mudança no discurso pode alterar rapidamente a precificação dos mercados.
No setor cripto, o foco permanece nos ETFs de Bitcoin. Entradas constantes tendem a sustentar o preço, enquanto saídas sucessivas indicam redução de risco. O Bitcoin deve continuar oscilando entre suporte e resistência. Hoje, o ativo segue em uma fase de lateralização entre US$ 86.850 e US$ 89.400, o que pode representar uma acumulação de fundo, segundo Ana.
Se houver confirmação desse padrão, o BTC pode buscar níveis mais altos nas regiões de US$ 94.500 e US$ 101.300. Porém, se o fluxo vendedor aumentar, os suportes críticos estão em US$ 82.200 e US$ 79.000.
Não há sinal de uma altseason ampla no horizonte. Ainda assim, ativos específicos podem se destacar caso o Bitcoin permaneça estável. Ana reforça que “o mercado premia projetos com fundamentos e liquidez, e não narrativas vazias”.
Riscos corporativos e impacto indireto no Bitcoin
No fim de dezembro, analistas passaram a discutir o possível risco de retirada da Strategy dos índices da MSCI. Caso isso ocorra, ETFs que replicam esses índices podem ser obrigados a vender ações da empresa. A Strategy é uma das maiores detentoras corporativas de Bitcoin, o que trouxe atenção ao tema como um possível gatilho de volatilidade indireta.
A decisão da MSCI está prevista para 15 de janeiro de 2026.
De acordo com Ana, o cenário atual exige disciplina. “É um mercado que recompensa leitura de fluxo e gestão de risco. Estratégias baseadas apenas em narrativa tendem a falhar”, explica. Segundo ela, juros, dados macro e ETFs são hoje tão importantes quanto o gráfico de preços.


