Talvez o público mais jovens não se lembre do programa do extinto Banco Bamerindus que passava aos sábados, antes do Jornal Nacional da Rede Globo, o “Gente que Faz“.
Nele, o Banco contava a estória de uma pessoa que havia se superado e passado por alguma transformação na vida.
Diante deste contexto, o sr. Armínio Fraga é: “Gente que Fala”.
Ex presidente do Banco Central, Armínio Fraga é um economista renomado que já passou por diversas Instituições públicas e privadas do Brasil e do exterior.
Sua grande experiência está fundamentada nas políticas retrógradas e ineficientes do pragmatismo econômico, onde qualquer sistema averso a políticas econômicas saudáveis deve ser taxado ou aniquilado.
Esse é apenas um dos terríveis sintomas desse grupo de “Gente que Fala”.
Esta semana, em uma Live para o canal Instituto ProPague, Armínio Fraga discutiu sobre o tema “O Sistema Financeiro do Futuro”.
Diante da pergunta de Vinicius Carrasco a respeito das moedas digitais, Armínio Fraga começou dizendo que “as finanças já são digitais”.
Disse que “países que possuem estoques muito grande de papel moeda usam fundos que facilitam a vida de bandidos “de todos os tipos”, desde traficantes a sonegadores de impostos, e por isso as moedas digitais seriam boas.
Deixando claro que não sabia muito do assunto, Fraga disse que acreditava que as moedas digitais haviam surgido com o Bitcoin, dentro de modelos de controle distribuído, sem uma autoridade central controladora, e sem confiança.
Nós chamamos isso simplesmente de “descentralizado”.
Mas, toda vez que eu me deparo com o conceito de confiança no Governo há a necessidade de uma explicação.
O lado estadista acredita cegamente que o que vem do Governo é bom, e é de confiança. Isso chama-se fiduciário.
O dinheiro estatal, por exemplo, é fiduciário, pois ele é lastreado na confiança que o Governo impõe que você tenha nele.
De fato, o fiduciário é o sistema de segurança que temos no Governo, que não nos traz nenhuma segurança.
O Bitcoin não é fiduciário, e por isso ele é classificado pelos estadistas como sem confiança.
Ele não é cunhado pelo Governo. Não pode ser impresso à revelia. Não possui carimbo de gado. Hoje é um dos raros ativos no planeta que possui inflação decrescente metricamente calculada.
Como poderia ser de confiança do Governo?
A seguir Fraga disse com as seguintes palavras:
“O Bitcoin foi um negócio muito interessante, muito charmoso, mas que no fundo (eu falei na minha introdução), se você tem um país mais ou menos; você tem uma moeda; você vai dominar; é o mercado. O negócio do Bitcoin não é barato”.
Fraga disse “foi”! Com essa fala eu posso solicitar ao obituário do Bitcoin que acrescente às estatísticas mais uma morte do Bitcoin.
Se eu conseguir isto ainda hoje será a morte de número 383 do Bitcoin.
No que diz respeito ao “sistema financeiro do futuro”, não falar sobre tecnologia blockchain é o mesmo que ficar mudo! Fraga deve desconhecer o que é.
O ramo das blockchains é imenso, e o hoje Bitcoin é o principal produto dele. Mas existe todo um ecossistema por trás das criptomoedas, fundamentado numa tecnologia extremamente avançada e que já está mudando como o mundo se relaciona de forma digital.
Fraga disse que quem criou este sistema foram os libertários, pessoas que não querem nada do Governo!
Vindo da boca do Estado o tom só poderia ter sido pejorativo, e não sei se poderia esperar que ele falasse o porquê que o Bitcoin foi criado.
Qual situação econômica mundial caótica levou a isso? Será que ele foi abduzido em 2008?
E eu particularmente não gosto do adjetivo libertário para o(s) criador(es) das criptomoedas. Libertário sou eu que quero me libertar deste sistema. Aqueles eram cypherpunks, e eles estão um degrau acima de nós, libertários.
Se hoje o Estado discute criar os Bancos Centrais de Moedas Virtuais, é porque os “libertários” citados na Live por Fraga se revoltaram contra o sistema Estatal que definha desde o fim do padrão ouro em 1971.
Por sinal, Fraga relacionou os libertários das criptomoedas aos seguidores do extinto padrão ouro, e realmente, os primeiros relatos dos modelos de criptografia são originários da década de 70, de quando o dólar perdeu seu lastro fixo de valor.
Flagra se referiu ao Bitcoin por não servir como meio de pagamento devido a sua grande volatilidade de preço.
A gente até pode tentar falar para ele, que no momento estamos utilizando o Bitcoin mais como reserva de valor. Mas isso poderia causar estranheza a qualquer economista desavisado.
Cada Bitcoin já valeu menos de R$1 real, sim, mas na cotação de hoje ele vale 290 cédulas de lobo-guará.
Eu me recuso a dizer o valor dessa nota. Ela não vale isso! Aqui a gente não engana ninguém.
No quesito volatilidade nem vamos entrar no assunto stablecoins, ele desconhece os mais de 15 bilhões de Tether que já existem. Mas este é um caso à parte, não entremos nesta discussão.
Fraga disse que o Bitcoin até poderia servir para “transferir algum dinheiro ou esconder dinheiro”.
E eu já pensei quanto tempo ele demorará para entender sobre endereços e carteiras de criptomoedas, dados permanentes, e segurança em blockchain.
Já imaginaram os Governos imprimindo sua moedas digitais estatais e o grupo WhaleAlert publicando isto em sua conta no Twitter?
Isso poderá acontecer, Fraga, se o Banco Central lançar o Token “Real Brasileiro (BRL)” na rede Ethereum. Será que ele sabe do que eu estou falando?
Alguém terá que explicar pro Fraga que os animais das cédulas do Real estão em extinção e não podem ser comidos, portanto não poderão ser listados nos protocolos DeFi.
Que piada tosca! Mas eu ri! Como diz na gíria: Os fortes entenderão!
Fraga disse que “o Bitcoin não vai a lugar nenhum”.
Elementar, meu caro Fraga! Não há como o Bitcoin ir para onde ele já está!
O Bitcoin está acessível em qualquer lugar do mundo. Se eu quiser comprar dólar no exato momento da redação deste Artigo, eu não consigo. Se eu quiser transferir dinheiro para outro país eu não consigo.
São 23h da noite de uma sexta-feira, e o Governo rege a nossa vida financeira nos moldes de seus interesses.
Esse sistema almejado por “Gente que Fala” é aquele que desde que criado perdeu valor diante de ativos de confiança como os metais e outras commodities.
O Governo acha que criando a sua própria moeda digital estará no mesmo nível do Bitcoin. Isto pôde ser observado em algumas passagens da fala de Fraga.
Não Fraga, o Bitcoin não é uma moeda estatal, e as moedas digitais dos Bancos Centrais não serão criptomoedas!
Elas são completamente diferentes e não adianta achar que “qualquer país mais ou menos terá a sua moeda e imporá o sistema”!
Estes países mais ou menos são a grande maioria dos países do mundo, e as pessoas aprenderão a fugir do sistema. Haja visto a Venezuela, a Argentina, o Uruguai, diversos países africanos e asiáticos, entre outros que estão vendo nas criptomoedas uma forma de fugir do sistema financeiro fiduciário.
O medo dos senhores é tamanho que criaram o PIX; que estão criando as suas próprias moedas digitais estatais. Mas as mudanças dos senhores apenas vem quando percebem que não conseguem mais controlar a massa!
Daí constroem novos estábulos, prendem e controlam o gado de novo.
Mas no final, Fraga falou algo propício e sensato. Disse que “os Bancos Centrais trabalham sobre juros e que pouco importa o volume de dinheiro”.
Está explicado porque o dedo do Governo está emperrado no botão de ligar da máquina impressora estatal.
Para uma Live de mais de 1 hora que abordava o tema “O Sistema Financeiro do Futuro”, tratar por pouco mais de 2 minutos sobre o sistema blockchain neste sistema muda completamente o contexto do programa.
O programa deveria se chamar: “O Sistema Financeiro do Passado”.
São palavras de Fraga sobre o Bitcoin:
“Acho que não vai mudar muito, não. A política monetária tem seus limites. Hoje os bancos centrais viraram resolvedores de todos os problemas. Na verdade não são, mas, de fato, têm muito poder, e esse poder seguirá sendo exercido com seus grandes benefícios e também com riscos”.
“Acho que os bancos centrais precisam fazer seu trabalho mais ou menos como sempre, adaptados à tecnologia atual. A moeda digital já chegou”.
Para Fraga, definitivamente o futuro é o passado e o presente.
No segundo parágrafo deste texto eu apresentei o programa “Gente que Faz”, como sendo do Banco que contava a estória de pessoas que haviam se superado, e passado por alguma transformação na vida.
Então, não perca nos próximos anos, antes do Jornal Nacional, a estória do economista que “não” deixou o Plano Real para passar a usar Bitcoin.
Armínio Fraga é que Gente que Fala!