- Ações da OranjeBTC acumulam queda de 46% desde a estreia na B3.
- Valor de mercado da empresa fica abaixo do tesouro em Bitcoin.
- CEO Guilherme Gomes cita baixa liquidez e modelo inédito como causas da desvalorização.
A OranjeBTC (OBTC3), empresa brasileira conhecida como a maior “Bitcoin Treasury Company” da América Latina, enfrenta sua primeira grande turbulência desde a estreia na B3. As ações da companhia já acumulam uma queda de 46,4%. Isso faz com que seu valor de mercado fique abaixo do total de Bitcoin mantido em tesouraria.
Na quarta-feira, 29 de outubro, os papéis da OranjeBTC fecharam o pregão em R$ 12,87, com queda diária de 5%, segundo dados da TradingView. O movimento negativo fez a capitalização da empresa recuar. Ficou para um patamar inferior ao do próprio tesouro em Bitcoin, avaliado em cerca de R$ 586,7 milhões.
O CEO Guilherme Gomes confirmou a informação em publicação no X (antigo Twitter). Ele afirmou que o mNAV — indicador que mede o valor líquido ajustado dos ativos de uma empresa — caiu para 0,94x. “Sim, nesse preço por ação, o mNAV está ligeiramente abaixo de 1,00”, escreveu Gomes ao responder o influenciador Renato Amoedo, conhecido como Renato Trezoitão.
O executivo atribuiu o desempenho negativo à baixa liquidez inicial e ao ineditismo do modelo de negócios da empresa no Brasil. “É natural que a liquidez seja mais baixa no começo. A OranjeBTC tem apenas três semanas de negociação e não passou por um IPO tradicional”, explicou.
De acordo com Gomes, a companhia nasceu com poucos investidores e busca ampliar sua base gradualmente. Ele destacou ainda a importância de educar o público sobre a natureza das empresas que operam com Bitcoin corporativo, ainda pouco compreendidas no mercado brasileiro.
OranjeBTC
Atualmente, a OranjeBTC mantém 3.708 BTC em reservas — o equivalente a US$ 408,4 milhões — adquiridos a um custo médio de US$ 105.431 por unidade. Apesar da queda das ações, o tesouro de Bitcoin ainda registra lucro de 4,5%, conforme dados da Bitcoin Treasuries.
Dessa forma, a queda da OranjeBTC ocorre em meio à pressão global sobre as “Bitcoin Treasury Companies”, como a americana Strategy. Além disso, o mNAV dela também recuou nas últimas semanas. Mesmo assim, a empresa de Michael Saylor ainda exibe mNAV de 1,11, acima do patamar da OranjeBTC e da brasileira Méliuz. Esta opera com mNAV de 1,18.
Assim, analistas apontam que o modelo adotado pela OranjeBTC — de alavancar capital via mercado financeiro para comprar Bitcoin — tende a se ajustar no longo prazo. Para Felipe Whitaker, do Mercado Bitcoin, e Felipe Mentes, da Altside, o formato oferece uma exposição regulada e eficiente ao Bitcoin. Isso, mesmo em um ambiente de juros elevados.
Em contraponto, o analista Luiz Pedro Andrade de Oliveira, da Nord Investimentos, adota uma visão mais cautelosa. Segundo ele, o modelo adiciona riscos operacionais e financeiros que podem afetar o retorno dos acionistas. “Investir diretamente em Bitcoin, por meio de ETFs ou exchanges, é uma alternativa mais simples e segura”, afirmou.


