Uma organização holandesa chamada Institute of Human Obsolescence (IoHO) recentemente levou a fantasia das criptomoedas sustentáveis ao extremo ao extrair o calor do corpo humano para minerar uma variedade de criptomoedas.
“No ano de 2017, a pegada ecológica da manutenção do blockchain do Bitcoin foi mais discutida, pois atingiu níveis inéditos de ineficiência e consumo de energia por transações.”, disse o fundador e artista do Ioho, Manuel Beltrán. “Na maioria dos casos, se é possível construir alguma tecnologia, as pessoas apenas a constroem e começam a usá-la sem levar em conta suas implicações éticas ou sócio-políticas. É exatamente esse o ponto que estamos desafiando.”
A ideia de aproveitar o calor do corpo para alimentar o mundo ao nosso redor não é exatamente nova – tudo, desde academias até discotecas, tem sido alimentado por corpos suados. O experimento do Ioho na colheita do calor corporal foi um pouco diferente, na medida em que não exigia que as pessoas fizessem nenhum esforço físico, como correr em uma esteira ou dançar até cair. Na verdade, os participantes só precisavam ficar parados por algumas horas de cada vez.
Um corpo humano adulto gera aproximadamente 100 watts de energia enquanto está em repouso, e cerca de 80% dessa energia é desperdiçada como excesso de calor corporal. A ideia do IoHO era capturar um pouco desse excesso de calor corporal usando matrizes usáveis de geradores termoelétricos. Esses geradores converteriam o calor do corpo em energia elétrica, que era usada para alimentar a criptomoeda de mineração dos computadores.
Desde 2015, 37 voluntários contribuíram com 212 horas de tempo de mineração para gerar um total de 127,2 watts de energia. Embora os voluntários tenham contribuído com seus corpos para o projeto por diferentes períodos de tempo, em média os voluntários contribuíram com cerca de 0,6 watts/hora de energia. Dado que o ser humano adulto médio produz cerca de 80 watts como excesso de calor, isso significa que o IoHO foi capaz de, efetivamente, coletar menos de 1% do calor corporal gerado por seus voluntários.
Devido à pequena quantidade de energia que a IoHO conseguiu extrair dos voluntários, a organização dedicou essa energia principalmente à mineração de novas criptomoedas, como Vertcoin e Startcoin, uma vez que exigia menos energia para extrair um número relativamente grande dessas moedas. De acordo com Beltrán, os voluntários mantiveram 80% das criptomoedas geradas, enquanto o restante foi dado ao Instituto.
Mineração de Bitcoin
“Nós nunca extraímos Bitcoins porque seria inútil produzi-los com calor humano.”, disse Beltrán. “Nós extraímos exclusivamente altcoins e algumas delas subiram mais de 46.000% em valor. O que no começo era apenas pequenos centavos agora se tornou quantias substanciais de dinheiro.”
Vamos supor que estamos usando um ASIC, um tipo especial de chip de computador para mineração de Bitcoin. Vamos usar o Antminer S9 como um ASIC de referência por causa de sua popularidade e eficiência. Um Antminer S9 usa 1.375 watts e minera cerca de 0,6 bitcoins por ano, então dois desses dispositivos produziriam 1,2 Bitcoin por ano e exigiriam 2.750 watts.
Como cada ser humano está gerando 0,6 watts de energia com o IoHO, seriam necessárias cerca de 4.600 pessoas paradas, 24 horas por dia durante um ano usando o dispositivo IoHO para produzir 1,2 Bitcoins.
Isso não é ótimo, mas os geradores termoelétricos usáveis têm muito espaço para melhorias. E quanto a mineração Bitcoin em um cenário ideal, onde os geradores foram perfeitamente eficientes e capazes de colher todos os 80 watts de excesso de calor produzido pelo corpo?
Nesse cenário, um indivíduo poderia produzir cerca de 700.000 watts em um ano. Isso significa que, se 34 pessoas ficaram paradas por um ano e seu excesso de calor corporal foi coletado com 100% de eficiência, elas poderiam colher 1,2 Bitcoins.
Se você quisesse acelerar as coisas e minerar 1 Bitcoin por mês, precisaria de cerca de 320 pessoas permanecendo inativas 24 horas por dia com um sistema perfeitamente eficiente. Para fazer 1 Bitcoin por mês com a tecnologia da IoHO é necessário que cerca de 44.000 pessoas forneçam energia corporal 24 horas por dia, sete dias por semana.
