- Circle avalia reversão de transações para proteger usuários
- Medida pode aproximar stablecoins do sistema financeiro tradicional
- Analistas veem potencial de expansão no setor de stablecoins
A Circle, emissora da stablecoin USDC, surpreendeu o mercado ao anunciar que estuda mecanismos de reversão de transações em casos de fraude ou disputa. A iniciativa, revelada pelo Financial Times nesta quinta-feira (25), busca aproximar o setor de criptomoedas das práticas do sistema financeiro tradicional, sem abandonar as inovações do blockchain.
Segundo o presidente da empresa, Heath Tarbert, a medida pretende equilibrar a liquidez imediata das transações com a necessidade de maior proteção aos usuários. Ele afirmou que a ideia é permitir contra pagamentos acordados, semelhantes a reembolsos de cartões de crédito, mas sem modificar diretamente os registros já feitos no blockchain.
Um movimento raro no mercado de criptomoedas
Tarbert, que já presidiu a CFTC, destacou que a proposta representa um afastamento da imutabilidade absoluta das redes. Para ele, embora contratos inteligentes e registros descentralizados ofereçam vantagens claras, ainda não conseguem reproduzir totalmente algumas garantias do sistema bancário.
A Circle discute com desenvolvedores se determinados blockchains poderiam adotar funções de reversibilidade, desde que todas as partes envolvidas concordem. O conceito, apesar de polêmico, vem ganhando atenção em um momento de crescimento acelerado das stablecoins, especialmente após a abertura de capital bem-sucedida da empresa em junho.
Hoje, a Circle possui mais de US$ 74 bilhões em USDC em circulação e trabalha em um novo blockchain chamado Arc, desenvolvido para instituições financeiras. A rede será compatível com a Ethereum Virtual Machine (EVM) e usará o USDC como token de gás nativo, oferecendo suporte para pagamentos, câmbio e operações de mercado de capitais.
Concorrência e impacto no setor de stablecoins
Enquanto a Circle explora essa integração com práticas tradicionais, sua principal concorrente, a Tether, mantém foco em transações de alto volume e mercados emergentes. Essa diferença de estratégia evidencia como as stablecoins caminham para modelos distintos de atuação no mercado global.
O Financial Times acrescenta que analistas de instituições como o Goldman Sachs enxergam o setor de stablecoins como uma das áreas de maior potencial de expansão nos próximos anos. A possibilidade de incluir mecanismos de reembolso pode acelerar a adoção institucional, oferecendo confiança a investidores mais conservadores e reduzindo barreiras regulatórias.
No entanto, especialistas lembram que a reversão de transações desafia a essência do blockchain, que sempre se apoiou na imutabilidade como pilar de segurança. A Circle, portanto, caminha em uma linha delicada: aumentar a proteção contra golpes sem comprometer a confiança na descentralização.
Com isso, a iniciativa da Circle sinaliza uma nova fase para as criptomoedas, em que segurança e inovação podem finalmente caminhar juntas.