Criada em 2017, a BitcoinTrade é uma das principais exchanges brasileiras. Apesar do curto tempo de vida, a empresa já se consolidou no mercado cripto, superando algumas de suas concorrentes nacionais em volumes de negociação. Foi a primeira exchange brasileira a aceitar cartão de crédito como forma de pagamento e o seu site possui certificado nível 2 PCI DSS, que é um certificado international de segurança. Seu CCO e co-fundador, Daniel Coquieri, é um empreendedor com bastante experiência no setor de tecnologia, sendo o responsável por toda a operação da BitcoinTrade e cuida das áreas de marketing, desenvolvimento de produtos e relacionamento com clientes. Em conversa com o portal BitNotícias, Coquieri falou o mercado cripto no Brasil, como é trabalhar neste mercado, desafios e expectativas para 2019.
Nós temos enfrentado um período de bear market nos últimos tempos. Diante disto, quais são os maiores desafios para manter a empresa em pé mesmo com a queda acentuada?
Por parte da BitcoinTrade, a gente sempre foi uma operação muito automatizada desde o começo. Desde que a corretora foi lançada, nós sempre procuramos automatizar ao máximo os processos desde a parte de marketing e financeiro à parte de compliance… Então, acho que o maior desafio é realmente você manter uma operação enxuta, uma operação que realmente caiba no faturamento da empresa e também continuar desenvolvendo a plataforma, os produtos, continuar entregando serviços de qualidade… Eu acho que isso é muito importante nesses momentos.
O Brasil ainda tem pouca participação no mercado de criptomoedas. O que acha que falta no país para este mercado crescer?
O brasileiro não tem o perfil de investidor, ainda mais de investidor de risco. Só olhar para os números da B3 comparado aos números de investimentos mais conservadores como poupança e renda fixa. Acho que isso contribui também para o mercado ter pouca participação. Acredito que muitos dos que entraram no mercado de criptos em 2017 foi, obviamente, pelo boom que a moeda teve e pouca noção do que se tratava a tecnologia ou o investimento. Entrou ali na euforia do momento de alta… Hoje, o que eu vejo no mercado, é que realmente quem ficou são os investidores que têm aptidão à risco, os que têm perfil de trader e também alguns arbitradores de preço de cripto. E eu acho que para o mercado crescer vai muito da base da educação e isso não é tão simples… E não vai ser uma empresa de cripto que vai conseguir fazer isso, mas acho que todo um ecossistema de investimento e de todos os tipos de investimentos, não só cripto. Falta educação financeira, principalmente, para que as pessoas possam passar a investir mais em produtos, não só de risco, mas também produtos mais convencionais. Então, eu acho que é uma questão cultural, de perfil.
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Falando ainda do mercado no Brasil, qual a dificuldade e/ou apoio que vocês têm com os reguladores brasileiros?
Na verdade, eu acho que não existe nenhuma grande dificuldade e também não existe nenhum apoio, porque tanto o Banco Central, quanto a CVM já se posicionaram de uma maneira muito clara sobre as criptomoedas. O Banco Central não enxerga as criptomoedas como moedas. Ele diz, claramente, que moeda só existe uma, que é a moeda fiduciária, a moeda soberana do país. Já a CVM também declara que as criptomoedas não são um ativo mobiliário, não é um ativo que ela tenha que regular… Eu sei que existem grupos de discussão dentro da CVM, o Banco Central acho que menos. Existia a discussão na Câmara em 2017, junto com alguns deputados. Eles estavam querendo criar uma regulamentação para criptos e programas de milhagens, mas 2018 era ano de eleição e acabou que o assunto foi um pouco esquecido… Eu tenho uma visão muito clara que uma regulamentação é sadia ao setor, é benéfica desde que seja feita pró setor, não contra; no sentido de dar mais segurança a todo mundo que está envolvido no setor. Ou seja, eu acho que uma regulamentação pode ajudar a trazer mais investidores ao mercado, pode ajudar a profissionalizar o mercado e pode dar segurança, tanto pra quem investe em cripto como pra quem investe em negócios que envolvem o ecossistema de criptos ter uma certa segurança de uma legislação pró mercado.
Diante das últimas notícias de exchanges que sofreram ataques hackers, quais são as medidas de segurança que a BitcoinTrade usa para minimizar os riscos dos ataques?
Um dos sócios da empresa, Fabio Santos, tem mais de 20 anos de experiência em cyber ataques. Trabalhou muito tempo na indústria de cartões de crédito, Cielo, Verifone nos EUA. Ele é nosso responsável, não só na parte de infraestrutura como também na parte de segurança da informação. A gente tem uma série de medidas internas na empresa para evitar [ataques], desde engenharia social por parte de algum membro da nossa equipe à toda a parte de segurança de infraestrutura. Desde a parte de cold wallet multiassinada, uma série de regras de acesso, também as assinaturas da carteiras da corretora que utilizam um sistema bem sofisticado. Aa gente nasceu com um viés muito forte em segurança e não é à toa que um dos sócios da corretora é um especialista em cyber ataques, já foi hacker no passado, é um cara que conhece muito de segurança e ele que gera e cria e trabalha em cima disso.
O que espera para 2019 em relação ao mercado de criptomoedas?
Eu acho que esse ano vai ser um ano de consolidação dos players do mercado, principalmente a parte das corretoras. Eu acredito que vai haver um movimento de fusão de corretoras, acho que a gente está com muita opção no mercado e com relação ao preço do Bitcoin em si; eu não acredito mais em nenhum boom como foi em 2017. Eu acho que ele vai oscilar pra cima, pra baixo, mas vai ficar na faixa de 3 a 6 mil dólares. Me surpreenderia se houvesse um novo boom ainda este ano. Mas acredito que possa haver alguns movimentos que ajudem o mercado como todo a se consolidar, a amadurecer. Tanto uma aprovação de uma ETF ou o lançamento da corretora BAKKT. Tudo isso pode ajudar e acho que agora estão começando a nascer projetos. Eu tô percebendo isso, empresas com uma visão muito menos no preço do Bitcoin mas com uma visão muito mais na utilidade que o Bitcoin ou que outras criptos podem dar no dia-a-dia dos clientes. Acho que isso é fundamental. Então, você sai daquele oba oba de preço, de ficar rico rápido, e vai pra uma ordem de “Preciso criar algo. E se quero criar algo, isso aqui tem que ter valor agregado pro cliente final” e esse valor não pode ser o preço, porque ninguém controla o preço do Bitcoin. Então, as empresas que estão criando negócios, acreditando que o preço vai disparar, sempre vão estar reféns de algo que não controlam. Obviamente, a gente sabe que pode existir manipulação no preço. É um mercado com baixa liquidez comparado com outros mercados financeiros, mas você não consegue controlar o preço. Acho que todo mundo adoraria ver o Bitcoin indo pra dez mil dólares de novo, mas não vai ser um ou outro que vai conseguir controlar isso. Acredito que o mercado vai amadurecer e vão surgir novos projetos, bons projetos. A gente está sempre de olho nisso aqui na corretora para parceiras que lancem produtos que realmente agreguem valor às criptos e ao cliente final.