- Ferramenta Ban-Knots levanta debate sobre censura no Bitcoin.
- Atualização facilita bloqueio de nodos e preocupa comunidade.
- Fragmentação pode atrasar confirmações e afetar descentralização.
O Bitcoin sempre foi defendido como uma rede imune à censura, mas um novo desenvolvimento reacendeu a polêmica sobre esse princípio. No dia 19 de setembro de 2025, o desenvolvedor conhecido como Noosphere888 lançou a versão 1.1.0 do Ban-Knots, um script que atua sobre o cliente Bitcoin Knots. A ferramenta permite que usuários desconectem ou bloqueiem nodos específicos, o que coloca em dúvida a ideia de que o BTC é totalmente livre de restrições.
A atualização está disponível no GitHub e trouxe mudanças relevantes. Agora, o script detecta automaticamente o arquivo de autenticação do Bitcoin Core, dispensando a necessidade de inserir credenciais manualmente. Além disso, passou a oferecer suporte integrado para plataformas como Start9 e Umbrel, muito utilizadas para rodar nodos de Bitcoin.
Outro ponto importante da versão 1.1.0 foi a correção de falhas técnicas que afetavam senhas com caracteres especiais e a execução em tarefas automáticas. Essas melhorias tornam o Ban-Knots mais robusto e acessível, inclusive para usuários sem grandes conhecimentos técnicos.
O verdadeiro foco do debate, porém, não está nas correções técnicas. O que gera discussões intensas é o fato de o Ban-Knots facilitar a criação e aplicação de listas negras de nodos. Com essa funcionalidade, qualquer usuário pode excluir nodos considerados indesejáveis no processo de retransmissão de transações.
De acordo com Noosphere888, a ideia central é simples: “não se conecte a nodos que não retransmitam suas transações válidas”. O alvo principal seriam aquelas transações que utilizam OP_RETURN para inserir conteúdos arbitrários dentro dos blocos, algo que o Bitcoin Knots filtra por considerar excessivo em termos de espaço.
Bitcoin não pode ser censurado
Essa possibilidade de banir nodos abre caminho para fragmentação dentro da rede da criptomoeda, criando cenários em que participantes podem ser excluídos por critérios específicos. Isso contrasta com a visão original do Bitcoin, que nasceu para ser um sistema neutro, descentralizado e resistente à censura.
Embora a censura direta de transações ainda não seja realidade, analistas apontam que, se o Ban-Knots ganhar popularidade, a rede pode enfrentar atrasos e falhas de comunicação entre nodos. Uma “batalha de nodos”, em casos extremos, poderia até atrasar a confirmação de transações e prejudicar a experiência dos usuários.
Hoje, a maioria dos nodos ainda roda com o cliente Bitcoin Core, que possui regras mais flexíveis e retransmite transações que o Knots rejeita. Esse predomínio evita maiores choques. Porém, se o Knots ampliar sua base e as listas negras forem adotadas em larga escala, o risco de segregação entre clientes será maior.
Alguns defensores do Ban-Knots argumentam que a ferramenta protege a rede contra nodos que não seguem as regras desejadas por certas comunidades. Por outro lado, críticos afirmam que esse tipo de controle ameaça a neutralidade do Bitcoin, transformando o que seria um sistema aberto em algo mais vulnerável a divisões internas.
O lançamento da versão 1.1.0 deixa claro que o debate sobre censura no Bitcoin está longe de acabar. Enquanto uma parte da comunidade enxerga as listas negras como ferramentas legítimas de proteção, outra lembra que elas violam os princípios que tornaram o BTC popular.