O mundo é digital e neste meio o FIAT tem se tornado obsoleto.
Oneroso e de utilidade retrógrada, depois da pandemia que mostrou que cédulas são perigosas, veio a pandemia das moedas digitais, e agora os Bancos Centrais do mundo inteiro voltam seus olhos para a digitalização do dinheiro.
Por evolução ou por medo da dominância chinesa desta tecnologia, o que estamos vivenciando é uma onda crescente de Legislações e Governos implementando Blockchains em seus serviços.
De acordo com o site The Block, uma pesquisa mostrou que as moedas digitais dos Bancos Centrais (CBDCs) estão em crescimento pelo mundo.
Dos mais de 60 Bancos Centrais analisados, 18 afirmaram estar desenvolvendo a sua própria CBDC.
Já outros Bancos Centrais afirmaram estarem desenvolvendo moedas digitais em parceria com fornecedores de serviços blockchain terceirizados.

O caminho está trilhado, e veremos a seguir o que alguns países estão fazendo a respeito.
Brasil
O Banco Central do Brasil já está está de olho no Real Digital.
Em agosto deste ano o Banco Central criou um grupo de trabalho para discussão dos impactos de uma eventual emissão de uma moeda digital.
Na ocasião, o Bacen informou que a emissão de moeda digital por Bancos Centrais poderia ser uma possibilidade para aprimorar o modelo vigente das transações comerciais.
Assim como os demais bancos centrais, o Banco Central do Brasil estuda o amplo e multifacetado tema de moedas virtuais
Banco Central do Brasil
Entretanto, os passos dados pelo Governo são lentos, e a Legislação sequer reconhece as criptomoedas como moeda ou meio de pagamento.
Desde 2019 o Imposto de Renda passou a abranger a negociação de criptoativos, e estas foram classificadas como “Bens”, para fins tributários.
Não há qualquer prazo estipulado para o lançamento do Real digital, apesar de que desde 2017 o Banco Central estuda a criação de uma Banco Central moedas digitais (CBDC).
Em 2018 o Banco Central aprofundou estudos e debateu o tema em Comissões internacionais, mas o modelo econômico por trás das moedas digitais ainda causava muitas adversidades.
No final de 2019 foi criado o Fórum Oficial das Instituições Monetárias e Financeiras (OMFIF), onde países do mundo concluíram que a inserção de moedas digitais seria algo inevitável, e que seria necessário a criação de bancos Centrais de Moedas Digitais
Neste ano, o PIX será lançado e este é o marco para a socialização massante dos pagamentos digitais.
Também para o Governo começar a testar o sistema de interconexão entre Bancos e empresas para a transação de dinheiro.
A inclusão de empresas financeiras que negociam criptomoedas ao PIX já é um passo, lento, mas em direção ao mundo do dinheiro digital.
China
Encabeçando o sistema dos Bancos Digitais a China possui interesses diversos em liderar a tecnologia das moedas digitais.
Com o sistema implementado e funcionando corretamente, a China almeja se livrar das sanções econômicas sofridas pelos Estados Unidos e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), e assim poder negociar livremente com os países.
A China já utilizou a cidade de Shenzhen para fazer o primeiro teste de seu YUAN digital, e declarou ter sido satisfatória a resposta da população.
Há todo um planejamento para novos teste, e isto incluirá uma gama de outras cidades.
Estados Unidos
Os Estados Unidos (EUA) estão de olho total nas criptomoedas, e alegam não estarem preocupados com a liderança e soberania de outros países diante de tal tecnologia.
Entretanto, recentemente o presidente do Banco Central americano (FED), Jerome Powell, declarou preocupação com o assunto, e disse que os EUA não emitirão um dólar digital até que o Federal Reserve resolvesse todas as questões em torno de uma potencial CBDC.
A postura dos EUA é igual a de outros países, que pensam que a pressa é inimiga da perfeição.
Segundo Powell, no momento os EUA não estão apenas olhando para os benefícios potenciais de uma CBDC, mas também para os seus riscos potenciais.
Eu realmente acho que a CBDC é uma daquelas questões em que é mais importante para os Estados Unidos fazer certo do que ser o primeiro
Jerome Powell
O fato é que os EUA estão mais preocupados com sistema financeiro como um todo, e acreditam que possuem um sistema satisfatório de transações, e que atende ao seu propósito.
A Legislação americana tem intensificado o controle sobre empresas e criptoativos no país, e tem trilhado o mesmo caminho que outros países no suposto controle dos crimes de lavagem de dinheiro.
O que os EUA não enxergam é que o país ainda acredita que possui um sistema financeiro e bancário consolidado e maduro, mostrando que não aprenderam nada com as crises anteriores.
Para eles, a moeda digital será apenas mais um artefato dentre os demais existente como meios de pagamento, e ainda trazem problemas como ataques cibernéticos, privacidade e segurança.
Em pesquisa realizada no país, mais de 50% dos americanos foram contras a emissão de um dólar digital, em tempos onde as stablecoins lastreadas em dólar atingem níveis recordes.
Reino Unido
Nada assusta mais o Reino Unido que o Libra, a moeda do Fabebook.
Até por isso o conjunto de países vêm desenvolvendo Legislações para regulamentarem o ecossistema das moedas digitais.
A maior preocupação do Reino Unido gira em torno das stablecoins, e dos mercados futuros e de câmbio de derivativos.
As stablecoins são vistas como um risco potencial para a estabilidade e integridade financeira e podem diluir a eficácia da política monetária.
Parece lógico que o Reino Unido não aceita outra entidade que não o Banco Central Europeu para emitir Euros em formato eletrônico, deixando a cargo de cada país gerar a sua CBDC.
Assim, este se torna um contra senso entre criar uma CBDC antes de regulamentarem totalmente o sistema.
Outro contra senso gira em torno da moeda digital do Euro. A comunidade europeia ainda não possui uma definição sobre a criação de um Banco Central de moedas digitais em conjunto.
Rússia
A Rússia é o país que encabeça a lista de restrições a criptomoedas pelo mundo.
Mas isto não tem impedido o desenvolvimento de sua própria moeda digital.
O Banco Central da Rússia divulgou um Relatório que detalhou os avanços progressivos do país em relação à sua bre a sua própria CBDC.
O Relatório concluiu que a economia russa está se tornando cada vez mais digitalizada, e assim ressaltou a necessidade de criar um sistema de pagamentos digitais através de CBDC que seja suportado pelo Governo.
A ideia é lançar o Rublo digital, que virá de encontro ao existente sistema FIAT Rublo que já existe no país.
A problemática é Legislativa, uma vez que produzindo o Rublo digital a Rússia conflitaria a sua Legislação amplamente restritiva ao uso de criptoativos.
Japão
Não há um consenso no Japão sobre a suposta ameaça que a CBDC da China representa para as nações.
Kenji Okamura, vice-ministro de finanças já expressou preocupação sobre os esforços de seu vizinho, afirmando que a vantagem do pioneiro é algo que deverão temer.
Pelo contrário, Kazushige Kamiyama, do Banco Central do Japão alegou que a vantagem da China pode facilmente se transformar em uma desvantagem, e que não acredita que uma moeda central dominará o mundo.
O Japão pode ser considerado um dos países que mais coleta dados sobre o desenvolvimento de Bancos Centrais pelo mundo, e almejam aprender com eles.
A maior preocupação do Japão é a suposta fuga de capital dos Bancos comerciais, até por isso pretendem fazer esta migração de forma parcial, quando o fizerem.
Portanto, o Japão mais está estudando que correndo atrás de implementar uma CBDC de seu país.
Venezuela
A Venezuela é o caso à parte do mundo das moedas digitais, e já possui uma há 3 anos.
O primeiro país a criar uma moeda estatal, o PETRO, esperava que com isso conseguiria mudar a sua economia. As reservas de petróleo bruto que dão suporte ao projeto.
O intuito era gerar um programa de criação de renda e pagamentos governamentais embasado na moeda digital, o que controlaria a hiperinflação e a recessão.
Entretanto, o Governo de Maduro viu que sem mudança nas políticas econômicas uma moeda digital nada mais é do que um FIAT da internet, e o projeto falhou.
Especialistas apontaram que a falta de segurança quanto ao lastro do PETRO no petróleo, e a não listagem em casas de câmbio pesaram contra.
Relatórios mostraram que o PETRO era era apoiado por uma empresa, a PDVSA, com dívidas de mais de US$45 milhões de dólares.
Este também foi pouco aceito pela sociedade, que já utilizava amplamente outras criptomoedas, como o Bitcoin, o Dash e o Monero.
Sem aceitação no comércio, uma moeda de troca não vale nada. Economia básica.
Com isso, Nicolás Maduro aumentou o valor da moeda, ampliou o pagamento de serviços, bonus e direitos, e desagradou mais ainda a população.
Por fim, Donald Trump proibiu a comercialização do PETRO devido a embargos econômicos, o que soterrou a moeda.
Pelo Mundo
O Uruguai lançou seu projeto de moeda digital em 2017. Entretanto, o E-PESO não usa a tecnologia blockchain ou contabilidade distribuída (DLT).
Trata-se de um aplicativo tipo o brasileiro PIX, mas com uma moeda digital própria de circulação.
O projeto uruguaio até que deu certo salvo as críticas sobre privacidade e ausência de fungibilidade, como é o caso das criptomoedas.
A África é um continente que aspira às criptomoedas e moedas digitais, e muitos países já abordam os Bancos Centrais sobre a implementação deste modelo econômico.
No início de outubro deste ano diversos países africanos debateram o assunto na Conferência da África sobre Moedas Digitais de Banco Centrais.
Nossa conferência é a convocação para que os africanos conduzam, participem e explorem as oportunidades e desafios em torno da moeda digital do Banco Central
Organização da Conferência da África
O evento levou altas Entidades dos Governos, Bancos Centrais, além de empresários de indústria, comércio e Fintechs para uma série de eventos promovidos para criar consciência, educar, informar e capacitar a trajetória da tecnologia, finanças e crescimento econômico da África.
No Canadá, o Banco Central está em busca de economistas que tenham conhecimento de tecnologia financeira e moedas digitais, com base sedimentada em Bitcoin, Ethereum e plataformas de blockchain.
Em uma Conferência, o presidente do Banco Central do Canadá, solicitou que os Bancos Centrais de todo o mundo produzissem as suas próprias moedas digitais, e anunciou que o desenvolvimento da CBDC canadense estava em construção.
Na Suécia, o Banco Central vem avançando em seu projeto de moeda digital, o e-KRONA, e pretende ser lançado oficialmente até o final do ano.
Na Holanda ainda não há um projeto para a elaboração de uma CDBC, entretanto o Banco Central do país emitiu nota que gostaria de liderar o grupo que trabalharia na produção de uma moeda digital.
Na Suíça, o Departamento Federal de Finanças iniciou um processo de consulta para criar uma regulamentação geral no ecossistema de blockchains, e iniciou pesquisas a respeito da criação de uma CBDC e da tecnologia de registros distribuídos.
A Associação Bancária Italiana já se pronunciou com o propósito de aceitar a implementação de uma moeda digital do Banco Central Europeu.
Em junho a Entidade italiana aprovou diretrizes que regem sua posição sobre CBDCs, que já aplica a tecnologia de contabilidade distribuída (DLT) para seu sistema interbancário alimentado por blockchain (projeto Spunta).
Em relação ao Euro digital, a França testou com êxito em maio um Euro digital operacional em uma blockchain.
Já o Banco Central Europeu publicou um Artigo no início do mês de outubro sobre o euro digital onde afirmou que ainda não decidiu se emitirá um Euro digital ou não.
Caso este empreendimento prossiga, ocorrerá apenas em 2021, e mesmo assim o Banco Central Europeu não prometeu que irá lançá-lo.
A Tailândia anunciou que pretende digitalizar sua moeda nacional, ao qual já está em fase de testes pelo Banco Central.
Discussão
Enfim, certamente muitos outros países estão se movendo criando Legislações específicas para as criptomoedas, e trabalhando em moedas digitais de seus Bancos Centrais.
Sem dúvidas com isto a economia e o setor financeiro se tornará mais eficiente e dinâmico devido principalmente às burocracias estatais que serão destituídas com o dinheiro digitalizado.
Também trará mais transparência, menos custos, e maior rastreabilidade ao sistema financeiro, inclusive propiciando um maior combate a crimes financeiros.
As criptomoedas, as stablecoins, as altcoins e os tokens são os maiores responsáveis por tudo isso, pois sem sombra de dúvidas o pragmático sistema financeiro mundial continuaria na idade das pedras se fossem eles.