- Nasdaq busca aprovação da SEC para listar ações tokenizadas.
- Tokenização promete liquidez, custos menores e negociação 24 horas.
- Mercado de RWAs já supera US$ 465 milhões em valor.
A Nasdaq deu um passo histórico ao solicitar à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) autorização para listar e negociar ações tokenizadas em seu sistema. O pedido busca alterar regras atuais, incluindo a própria definição de valor mobiliário, para que os papéis digitais recebam o mesmo tratamento de execução e documentação que as ações tradicionais.
O movimento pode mudar de forma estrutural a forma como os mercados lidam com a negociação de ativos. Se aprovado, o modelo permitirá que ações tokenizadas circulem em mercados regulados, utilizando a tecnologia blockchain para liquidação e custódia. O objetivo é aproximar dois mundos que até agora caminharam em paralelo: o das finanças tradicionais e o dos ativos digitais.
Na proposta, a Nasdaq afirmou que as versões tokenizadas manteriam os mesmos direitos e proteções de suas ações correspondentes. As ordens seriam processadas pelas clearing firms e pela Depository Trust Company exatamente como ocorre hoje com ativos convencionais, garantindo paridade total entre os modelos.
A diretora financeira da bolsa, Sarah Youngwood, disse que a solução apresentada é simples e aproveita a infraestrutura já existente. Segundo ela, “o projeto coloca a tokenização no centro do mercado, sem a necessidade de reinventar toda a estrutura de negociação”.
Ações tokenizadas

O tema não se limita a ajustes técnicos. A discussão chega ao cerne de como ações são emitidas, definidas e liquidadas em Wall Street. A iniciativa da Nasdaq ocorre em um momento de maior abertura dos reguladores norte-americanos para ativos digitais. A própria SEC, sob a presidência de Paul Atkins, trabalha em regras claras para definir quando tokens digitais se enquadram como valores mobiliários.
Assim, os defensores afirmam que a tokenização com criptomoedas amplia a liquidez, reduz custos, permite propriedade fracionada e facilita o acesso de investidores estrangeiros a papéis dos EUA. Além disso, cria a possibilidade de liquidação quase imediata e de negociações 24 horas por dia, sete dias por semana, algo impossível no modelo atual.
No entanto, os riscos ainda pesam no debate. A World Federation of Exchanges (WFE) enviou carta a reguladores alertando para a necessidade de regras de proteção ao investidor. Já gigantes como Citadel Securities pedem cautela, ressaltando que a tokenização precisa de garantias legais robustas para evitar problemas de custódia e integridade de mercado.
Mesmo assim, os números mostram avanço rápido. Segundo a RWA.xyz, o valor de mercado das ações tokenizadas já superou US$ 465 milhões, com aumento de mais de 280% no volume mensal de transferências. Empresas como Robinhood, Kraken e Coinbase testam produtos nessa área, enquanto plataformas como a Ondo Finance oferecem centenas de ações tokenizadas a investidores internacionais.
Se a SEC aprovar a proposta, os EUA entrarão em uma nova fase da chamada Revolução dos RWAs (Real World Assets). Nesse cenário, a tokenização deixará de ser um experimento restrito a nichos de criptoativos para se tornar parte oficial da infraestrutura de Wall Street, com potencial de transformar para sempre a negociação de ações.