Bom dia povo!

No versículo anterior apresentei “O Comércio Familiar”, neste “Despojos de Guerra”
Despojos de Guerra
As taxas de mortalidade por violência em tropas de chimpanzés e culturas humanas caçadoras-coletoras são muito maiores do que nas civilizações modernas. Isto provavelmente data pelo menos desde nosso ancestral comum com os chimpanzés – tropas de chimpanzés também estão constantemente lutando.
A guerra envolvia, entre outras coisas, matar, mutilar, torturar, sequestrar, estuprar e extorquir tributos em troca de evitar tais destinos. Quando duas tribos vizinhas não estavam em guerra, uma costumava pagar tributos à outra. O tributo também poderia servir para vincular alianças, alcançando economias de escala na guerra. Principalmente, era uma forma de exploração mais lucrativa para o vencedor do que mais violência contra os derrotados.
A vitória na guerra era algumas vezes seguida por um pagamento imediato dos perdedores aos vencedores. Geralmente isso tomava a forma de pilhagem pelos vencedores entusiastas, enquanto os perdedores escondiam desesperadamente seus colecionáveis. Mais frequentemente, o tributo era demandado com uma certa regularidade. Nesse caso, a tripla coincidência poderia e algumas vezes era evitada por uma sofisticada agenda de pagamentos de forma que combinava a habilidade da tribo perdedora de suprir um bem ou serviço que o vencedor demandava. Entretanto, mesmo com essa solução o dinheiro primitivo poderia oferecer um caminho melhor – um meio de valor comum que simplificava muito o termos do pagamento – muito importante em uma era onde os termos de tratados não podiam ser registrados mas tinham de ser memorizados. Em alguns casos, como com o wampum usado na Confederação Iroquesa, os colecionáveis faziam o papel de um dispositivo mnemônico primitivo que, embora de forma não textual, poderia ser usado como uma ajuda para lembrar os termos do tratado. Para os vencedores, os colecionáveis forneciam uma maneira de coletar tributos mais perto do nível ótimo da curva de Laffer. Para os perdedores, os colecionáveis enterrados em cachês forneciam uma maneira de “declarar menos”, levando os vitoriosos a acreditar que os perdedores eram menos ricos e então demandando menos do que poderiam. Cachês de colecionáveis também forneciam seguro contra cobradores de impostos excessivamente zelosos. Muito da riqueza nas sociedades primitivas escapou do conhecimento dos missionários e antropólogos devido à sua natureza altamente secreta. Somente a arqueologia pode revelar a existência dessa riqueza escondida.
Esconder, e outras estratégias, apresentaram um problema que os coletores de tributos compartilham com os cobradores de impostos atuais – como estimar a quantidade de riqueza que podem extrair. A medição de valor é um problema espinhoso em muitos tipos de transação, mas nunca maior do que na coleção antagônica de imposto ou tributo. Ao fazer esses trade-offs muito difíceis e não intuitivos e, em seguida, executá-los em uma série de consultas, auditorias e ações de cobrança, os coletores de tributos otimizaram eficientemente suas receitas, mesmo que os resultados parecessem um grande desperdício para o pagador de impostos.
Imagine uma tribo coletando tributos de várias tribos vizinhas que derrotou anteriormente em guerra. Ela deve estimar o quanto pode extrair de cada tribo. Estimativas ruins deixam a riqueza de algumas tribos subestimadas, enquanto força outras a pagar tributos baseados em estimativas de riqueza que eles não têm de fato. O resultado: as tribos machucadas tendem a encolher. As tribos que se beneficiam pagam menos do que poderia ser extraído. Em ambos casos, menos receita é gerada para os vitoriosos do que eles poderiam conseguir com regras melhores. Essa é uma aplicação da curva de Laffer para as fortunas de tribos específicas. Nessa curva, aplicada a receita de impostos pelo economista brilhante Arthur Laffer, na medida em que a taxa de imposto aumenta, a quantidade de receita aumenta, mas em um ritmo cada vez mais lento do que a taxa de imposto, devido ao aumento de evasão, e acima de tudo desincentivo para se envolver na atividade tributada. A uma determinada taxa, devido a essas razões, as receitas fiscais são otimizadas. Escalar as taxas para além do nível ótimo de Laffer resulta em uma diminuição ao invés de aumento das receitas para o governo. Ironicamente, a curva de Laffer foi usada por defensores de impostos mais baixos, embora seja uma teoria da arrecadação ótima de impostos para a receita do governo, não uma teoria de arrecadação ótima de impostos para o bem-estar social ou satisfação de preferência individual.
Em larga escala, a curva de Laffer pode ser a lei econômica mais importante da história política. Charles Adams[A90] a usa para explicar o surgimento e a queda de impérios. Os governos melhores sucedidos têm sido implicitamente guiados por seus próprios incentivos – tanto seus desejos de receita a curto prazo e seu sucesso a longo prazo contra outros governos – a otimizar suas receitas de acordo com a Curva de Laffer. Os governos que sobrecarregam seus pagadores de impostos, tais como a União Soviética ou o Império Romano tardio, acabaram nos montes de poeira da história, enquanto governos que coletaram menos do que o nível ótimo eram frequentemente conquistados por seus vizinhos melhor financiados. Governos democráticos podem manter altas receitas fiscais ao longo do tempo histórico por meios mais pacíficos do que conquistando estados sub-financiados. Eles são os primeiros estados da história com receitas fiscais tão altas em relação às ameaças externas que eles podem se dar ao luxo de gastar a maior parte do dinheiro em áreas não militares. Seus regimes fiscais tem operado mais perto do nível ótimo de Laffer do que os da maioria dos governos anteriores. (Alternativamente, esse luxo pode ter sido possibilitado pela eficiência das armas nucleares em impedir ataques, e não pelo aumento dos incentivos das democracias para otimizar a arrecadação de impostos). Quando aplicamos a curva de Laffer para examinar o impacto relativo dos termos de tributo do tratado em várias tribos, concluímos que o desejo de otimizar receitas faz com que os vitoriosos queiram medir acuradamente a renda e a riqueza do vencido. Medir valor é crucial para determinar os incentivos dos contribuintes para evitar ou fugir do tributo escondendo riqueza, lutar ou fugir. Por sua vez, os contribuintes podem e fazem falsificações dessas medidas de várias maneiras, por exemplo, ao enterrar colecionáveis em esconderijos. A coleta de tributos envolve um jogo de medidas com incentivos desalinhados.
Com colecionáveis, pode-se exigir tributo em momentos estrategicamente ótimos, em vez de quando os itens podem ser fornecidos pelo tributário ou estão em demanda pelo vencedor. Os vitoriosos podem então escolher quando no futuro eles irão consumir a riqueza, ao invés de ter de consumí-la no momento em que o tributo é extraído. Muito mais tarde, bem no início da história, em 700 a.c, embora o comércio fosse generalizado, o dinheiro ainda tomava a forma de itens colecionáveis – feitos de metais mais preciosos, mas em suas características básicas, como a falta de valor uniforme, semelhante à maioria dos proto dinheiros usado desde o alvorecer do Homo sapiens sapiens. Isso foi mudado por uma cultura de língua grega na Anatólia (atual Turquia), os Lídios. Especificamente, os reis da Lídia foram os primeiros grandes emissores de moedas no registro arqueológico histórico.
Daquele dia até hoje, as casas de moeda do governo com monopólios auto-concedidos, em vez de casas de moeda privadas, foram os principais emissores de moeda. Por que a cunhagem não era dominada por interesses privados, como banqueiros privados, que existiam na época nessas economias semi-mercadológicas? A principal explicação para o domínio do governo sobre a cunhagem de moedas é que somente os governos poderiam impor medidas contra a falsificação. No entanto, eles poderiam ter reforçado tais medidas na proteção de casas de moeda privadas concorrentes, assim como fazem valer marcas hoje e naquela época também.
Era muito mais fácil estimar o valor de uma moeda do que de um colecionável – especialmente em transações de baixo valor. Muito mais trocas poderiam ser feitas com dinheiro do que através do escambo; de fato muitos tipos de transações de baixo valor se tornaram possíveis pela primeira vez, já que os pequenos ganhos com as trocas excediam os custos de transação pela primeira vez. Os colecionáveis eram dinheiro de baixa velocidade, envolvidos em um número menor de transações altamente valiosas. Moedas era dinheiro de alta velocidade, facilitando um grande número de trocas de baixo valor.
Dado o que temos visto sobre os benefícios do proto dinheiro para tributos e coletores de taxas, bem como a natureza crítica do problema de mensuração de valor ao coagir de maneira ideal tais pagamentos, não é de surpreender que os cobradores de impostos, especificamente os reis da Lídia, tenham sido os primeiros grandes emissores de moedas. O rei, derivando sua receita da arrecadação de impostos, tinha um forte incentivo para medir o valor da riqueza mantida e trocada por seus súditos com mais precisão. O fato de as trocas também terem se beneficiado de uma mensuração mais barata por parte dos comerciantes do meio de troca, criando algo mais próximo de mercados eficientes e permitindo aos indivíduos entrar no mercado em larga escala pela primeira vez, era para o rei um efeito colateral fortuito. A maior riqueza fluindo através dos mercados, agora disponível para ser tributada, impulsionou as receitas do rei, mesmo para além do efeito normal da curva de Laffer de reduzir a má medição entre as fontes de impostos.
Essa combinação de uma coleta de impostos mas eficiente com mercados mais eficientes significaram um vasto aumento geral nas receitas fiscais. Esses coletores de taxas quase literalmente acertaram uma mina de ouro, e a riqueza dos reis Lídios, Midas, Croesus, e Giges é famosa até hoje.
Alguns séculos depois, o rei grego Alexandre o Grande conquistou o Egito, a Pérsia e boa parte da Índia, financiando sua conquista espetacular ao roubar os templos Egípcios e Persas, cheios de coleções de colecionáveis de baixa velocidade, e os derretendo em moedas de alta velocidade. Economias de mercado mais eficientes e abrangentes, bem como uma arrecadação tributária mais eficiente surgiram em seu rastro.
Os pagamentos de tributo não formaram sozinhos um ciclo fechado de colecionáveis. Estes só eram valiosos se finalmente pudessem ser usados pelos vencedores para outra coisa, como casamento, comércio ou garantia. No entanto, os vencedores poderiam coagir os vencidos a fabricar para obter colecionáveis, mesmo que não servissem aos interesses voluntários do vencido.
Deus os abençoe, e um ótimo sábado a todos.
Volto amanhã com o próximo, no qual trarei “Disputas e Reparações”
