Bom dia irmãos
No versículo de ontem apresentei “Atributos dos Colecionáveis”
Neste apresento a parte final dessa grandiosa obra do Nick Szabo que é Shelling Out.
Conclusão
Muitos tipos de transferências de riqueza – unidirecional ou mútua, voluntária ou coagida – encaram custos de transação. Em trocas voluntárias ambas as partes ganham; um presente verdadeiramente gratuito é usualmente um ato de altruísmo de parentesco. Essas transações criam valor para uma ou ambas as partes tão quanto o ato físico de fazer algo. Os tributos beneficiam o vitorioso e um julgamento de danos pode prevenir mais violência assim como beneficiar a vítima. Heranças fizeram dos humanos os primeiros animais a passar riqueza para suas próximas gerações de parentes. Essas heranças poderiam ser usadas como garantia ou pagamento em trocas por bens, alimentos para evitar a fome, ou o pagamento do preço de uma noiva. Se os custos de fazer essas transferências – custos de transação – forem baixos o suficiente para fazer as transferências valerem a pena é outra questão. Os colecionáveis foram cruciais ao possibilitar esses tipos de transações pela primeira vez.
Os colecionáveis expandiram nossa linguagem e grandes cérebros como soluções ao Dilema do Prisioneiro que impedem quase todos os animais de cooperar via reciprocidade atrasada com não familiares. Crenças de reputação podem sofrer de dois tipos principais de erros – erros sobre qual pessoa fez o quê, e erros em avaliar o valor ou danos causados por aquele ato. Dentro dos clãs (o grupo de parentesco pequeno e imediatamente local, ou família extensa, que formava um subconjunto de uma tribo), nosso cérebro poderia minimizar esses erros, de modo que a reputação pública e as sanções coercitivas superaram a motivação limitada proporcionada pela capacidade da contraparte de cooperar ou desertar no futuro como o principal responsável pela reciprocidade tardia. Em ambos, Homo sapiens neanderthalis e Homo sapiens sapiens, com o mesmo cérebro grande, é bem provável que cada membro de clã local mantinha registro de todos os favores dos outros membros do clã. O uso de colecionáveis para trocas dentro do pequeno grupo familiar pode ter sido mínimo. Entre clãs dentro de uma tribo, ambos, colecionáveis e registro, eram usados. Entre tribos, os colecionáveis substituíram completamente a reputação como o responsável pela reciprocidade, embora a violência ainda desempenhasse um papel importante na imposição de direitos assim como era um alto custo de transação que prevenia a maioria dos tipos de comércio.
Para ser útil como uma reserva de valor de uso geral e meio de transferência de riqueza, um colecionável tinha de ser incorporado em pelo menos uma instituição com um ciclo de loop fechado, para que o custo de descobrir e/ou manufaturar o objeto fosse amortizado em várias transações. Além disso, um colecionável não era apenas qualquer tipo de objeto decorativo bonito. Tinha de ter certas propriedades funcionais, tais como a segurança de ser vestível na pessoa, compacto para ser escondido ou enterrado, e custo não forjável. O alto custo deveria ser verificável pelo recebedor da transferência – usando muitas das mesmas habilidade que colecionadores usam para avaliar colecionáveis hoje.
As teorias apresentadas neste artigo podem ser testadas ao procurar por essas características (ou a falta delas) nos “ítens de valor” frequentemente trocados nessas culturas, ao examinar os ganhos econômicos dos ciclos através dos quais esses itens de valor se moveram, e ao observar as preferências por objetos com essas características em uma ampla variedade de culturas (incluindo as modernas).
Com sua tecnologia de cooperação sem precedentes, os humanos se tornaram o predador mais temido já visto neste planeta. Eles se adaptaram às mudanças climáticas, enquanto dúzias de suas grandes presas foram à extinção, pela caça ou mudanças climáticas na América, Europa, e Ásia. Hoje, a maioria dos animais de grande porte no planeta temem projéteis – uma adaptação a uma única espécie de predador[R97]. Culturas mais baseadas em coleta do que em caça também se beneficiaram grandemente. Uma explosão populacional se seguiu – O Homo sapiens sapiens conseguiu popular mais partes do planeta e a uma densidade mais de vezes maior do que o Homo sapiens neanderthalis[C94], ainda que com ossos mais fracos e cérebro do mesmo tamanho. Muito desse aumento pode ser atribuído às instituições sociais tornadas possíveis pelo uso efetivo de transferência de riqueza e linguagem – comércio, casamento, herança, tributos, garantias, e a habilidade de estimar danos para diminuir ciclos de vingança.
O dinheiro primitivo não era o dinheiro moderno como conhecemos. Ele assumiu algumas das funções que o dinheiro moderno desempenha agora, mas sua forma era de herança, jóias e outros itens colecionáveis. O uso disso é tão ancestral que o desejo de explorar, coletar, fazer, mostrar, avaliar, guardar com cuidado, e trocar colecionáveis são universais humanos – até certo ponto instintivos. Essa constelação de desejos humanos pode ser chamada de instinto de coletor. Procurar por matérias-primas, como conchas e dentes, e manufaturar colecionáveis ocuparam uma parte considerável do tempo dos humanos ancestrais, assim como humanos modernos gastam recursos substanciais nessas atividades como hobbies. O resultado para os nossos antepassados ancestrais foram as primeiras formas seguras de valor corporificado muito diferentes da utilidade concreta – e o precursor do dinheiro de hoje.
Encerramos aqui o Capítulo 1 da Série – O Evangelho de Satoshi Nakamoto
No Capítulo 2 apresento outra obra de Nick Szabo – The God Protocols
Até amanhã meu povo..