Neste longo bear market todos os segmentos do mercado criptográfico foram afetados de forma geral.
Os preços dos criptoativos em geral caíram bastante, e trouxeram a capitalização total do mercado cripto para baixo consigo.
Algumas empresas cripto faliram e praticamente todas demitiram funcionários, e muitos protocolos criptográficos e seus criptoativos implodiram.
Além do mais houve tudo quando é tipo de golpe e uma enxurrada de ataques hackers no mercado, além dos ataques de phishing, de rug pull, e assim por diante.
Se não bastasse tudo isso a credibilidade do mercado sempre é questionável por ações que moldam e manipulam dados.
E é aqui que entram os tokens não fungíveis (NFTs), seu mercado e valores, e e seus dados sempre questionáveis.
Para introduzir o assunto
Para expormos o quão questionáveis são os dados sobre os NFTs é importante mostrarmos dois gráficos.
O primeiro mostra o volume de vendas e o volume transacionado em NFTs durante o ano de 2022, dados estes coletados do agregador Nonfungible.com.
A linha vermelha no gráfico mostra o número de vendas de NFTs durante todo o ano de 2022 até a data desta publicação.
Há uma certa volatilidade nas vendas e esta até que é plausível, até porque lançamentos de coleções fazem com que os números possam realmente representar tais variações.
Podemos citar exemplos como o lançamento da coleção de NFTs do Reddit, que “bombou” o mercado de NFTs este ano.
Já a linha branca mostra o volume de vendas em dólar, e esta apresenta uma volatilidade mais insana, o que para quem conhece o mercado dos NFTs até pode ser plausível também, uma vez que existem NFTs de coleções que são vendidos a preços considerados estratosféricos, até porque muitos ainda enxergam a maioria das coleções de NFTs (ou todas) como sendo meros JPGs.
A imagem abaixo mostra como é difícil acreditar em algumas transações de NFTs.
Esta imagem traz as vendas mais caras do ano, onde há itens de coleções famosas, como Cryptopunks e um SuperRare.
Sim, está lá no EtherScam que alguém pagou US$ 24 milhões numa figurinha de punk de baixa resolução ao qual a comunidade da coleção pouco empreende em usabilidade ou eventos ou o que quer que seja.
Se fosse um item daquela coleção dos macacos entediados seria mais aceitável, afinal a sua comunidade é bem forte e adora criar coisas para tirar os donos dos macacos do tédio.
Mas alguém transacionou um NFT por absurdos 16.593 ethers (ETH), valor este estimado à época da transação em US$ 53 milhões.
A imagem supra apresentada não representa de fato o que é este NFT, mas o link dele está aqui.
Trata-se de um item da coleção PAK, e quem quiser saber mais a respeito é só clicar aqui.
Sequer fomos pesquisar o que este item que aparentemente é um relógio (Clock) faz, porque não é o intuito deste Artigo, mas que supostamente ele foi transacionado por mais de R$ 250 milhões, foi!
Algo estranho não é normal, e aqui que entra as peripécias do wash trading!
Wash Trading
A prática de wash trading é considerada crime no mercado financeiro tradicional, e é bastante usado dentro do mercado cripto sem tantas punições devido ao seus embaraços regulatórios.
Esta prática consiste em manipular o mercado através de transações falsas para que um ativo ou segmento de mercado pareça estar na moda, pareça estar sendo valorizado e bem-quisto por investidores; pareça ser a “nova gema”.
Esta falsificação visa a valorização deste ativo ou o que seja, e ilude desavisados que podem investir em algo que de fato é um castelo de cartas.
Nas ICOs de 2017 a 2019 este processo foi bastante utilizado para fazer de conta que aquele criptoativo que seria lançado seria o bam bam bam do momento.
De fato eram os próprios desenvolvedores do protocolo inflando o volume de compras dos tokens.
Nas exchanges centralizadas isto também é habitual, onde inside traders compram e vendem seus próprios tokens em grande escala para aumentar o volume de negociações e enganar sardinhas que acham que aquele ativo está sendo muito procurado.
Em 2019 o Bitnotícias reportou possíveis casos de prática de wash trading que estavam ocorrendo no agregador cripto CoinMarketCap.
No mesmo ano foi observada uma considerável grande queda desta prática nas exchanges centralizadas.
Esta prática gera tamanha preocupação, que inclusive a empresa Coinpaprika lançou em 2020 uma métrica para tentar se dirimir esta prática.
Mas a prática do wash trading nunca deixou de existir, e como não poderia deixar de ser, também afeta o mercado dos NFTs.
Relatório da Dune Analytics
A empresa Dune Analytics apresentou um relatório onde abordou a prática do wash trading em NFTs da rede Ethereum.
Usando um método analítico próprio, a empresa analítica usou quatro filtros para “identificar comportamentos de negociação estranhos que provavelmente são wash trading”.
Citamos: Filtro 1: Comprador = Vendedor; Filtro 2: Negociações de ida e volta; Filtro 3: NFTs comprados 3x (Excluindo ERC1155); e Filtro 4: Comprador e vendedor financiados pela mesma carteira
Ao aplicar todos estes filtros a empresa classificou os resultados encontrados como sendo “surpreendentes”.
Apesar da empresa relatar que apenas 1,5% das transações na rede Ethereum são de wash trading, quando se trata das transações de NFTs estea porcentagem foi de quase 45%.
Em valores, algo em torno de US$ 30 bilhões.
Isso significa que quase a metade das transações de NFTs que ocorreram este ano foram de “pessoas que os jogam no sistema, e não negociações legítimas”.
Segundo a Dune Analytics, até 2022 as operações de wash trading “raramente representavam mais de 10% do volume, com alguns picos notáveis”.
O pico destas negociações ocorreu no mês de janeiro deste ano, onde cerca de 80% da negociações de NFTs foram caracterizadas como sendo wash trading
A empresa pontuou que para as plataformas de comercialização de NFTs estes dados possuem pesos diferentes.
Por exemplo, para o maior mercado do mundo, o OpenSea, com sua vasta dominância de mercado, os números podem ser insignificantes.
Mas para outras plataformas como a LooksRare, X2Y2, e Element seus volumes de negociação são amplamente dependentes desta prática obsoleta.
Portanto, estas plataformas possuem um grande número de usuários que realizam tal prática.
Nelas, absurdos 98%; 87%; e 66% de seus respectivos volumes de transação de NFTs foram impulsionados pela atividade.
A Dune Analytics elencou algumas práticas associadas a esta manipulação de dados transacionais, como air drops de NFTs e coleções de NFTs que oferecem algum tipo de recompensa ou incentivo aos usuários que realizam trocas.
Com estas informações, a Dune Analytics concluiu que os NFTs e seu mercado são extremamente promissores, mas ainda remanescem questões que ofuscam a veracidade de sua participação no mercada criptográfico.
De fato, muito questiona-se as coleções de NFTs e a prática de wash trading, onde tal prática apenas serve para aumentar o desdenho da comunidade cripto.
E para finalizarmos este Artigo não podemos deixar de lembrar que a venda mais cara da história dos NFTs, a do artista Beeple com sua obra “Everydays: The First 5000 Days”, traz imensa suspeita de ser sido falsa.
À época, a obra foi vendida por US$ 60 milhões, e Justin Sun, CEO do protocolo Tron, e a jornalista Amy Castor levantaram suspeitas sobre a transação.